sábado, 27 de outubro de 2018

Mas tu viaja sozinha?



Essa é a pergunta que mais ouço sobre viagens. Conhecidos me perguntam isso, colegas me perguntam isso, vizinhos me perguntam isso, até o motorista do Uber me levando para o aeroporto me pergunta isso, todo mundo me pergunta isso.
Minto.
Brasileiros me perguntam isso. Apenas.
Estrangeiros dos quatro cantos do mundo não me perguntam isso. Oficiais na imigração de diferentes países não me perguntam isso. Pessoas que cruzam meu caminho em viagens não me perguntam isso.
Por que é tão difícil entender e aceitar uma mulher viajando sozinha para qualquer lugar? Se é que tem a ver com o fato de ser mulher. Um ser humano viajando sozinho já seria motivo de estranhamento suficiente? Sou apenas independente. Tenho vontade de viajar, viajo. Não espero ou preciso de ninguém a tiracolo para realizar minha vontade. Não dependo de ninguém. Sigo em frente, arrastando malas ou mochilas pelas ruas, por aeroportos, pegando trem, metrô, avião. Me hospedo em hostel (como assim, dividir quarto com outras pessoas?!), dou preferência ao transporte público (por questão de economia e de convicção), durmo em aeroportos quando necessário, decido meus próprios roteiros, sonho em conhecer países exóticos, peço para estranhos tiraram algumas fotos minhas… Sozinha. Por que não sozinha? Não sei qual a dificuldade, qual a estranheza. Com o absurdo acesso à informação que temos hoje em dia, não há dificuldade nenhuma em planejar uma viagem sozinha. Dá trabalho, toma tempo, exige responsabilidade saber que se estará sozinha em um lugar estranho, muito longe de casa, mas não é uma tarefa tão árdua assim, não cai pedaço, não traumatiza ninguém. Precisa de um pouco de coragem? Precisa, não vou negar. É solitário? É, um pouquinho sim. No entanto, nunca deixei de fazer nada em nenhuma viagem por estar sozinha, não deixei de conhecer nada que gostaria por estar sozinha. Se fiz ou não fiz algumas coisas, foi por questão de economia ou por medida de segurança que seriam exatamente as mesmas se estivesse acompanhada.
Quando me dei conta de como as pessoas me perguntam isso e comecei a pensar a respeito, percebi que são apenas conterrâneos que tem esse estranhamento. Por quê? Não tenho uma resposta. Seria algum aspecto cultural brasileiro desconhecido por mim que leva as pessoas a questionarem isso? Se alguém souber, por favor me diga. Será que a insegurança de nosso país faz as pessoas acharem assustador demais a ideia de estar sozinho em outro lugar? Será que sou eu que não me ajusto muito bem ao modo de pensar brasileiro? Bom, isso já percebi que é verdade.
Pois bem, só queria gerar a reflexão: “Por que não sozinha? Por que não? Por que se impedir de fazer alguma coisa?” Um tapinha leve na cara da sociedade. Uma pequena vontade de alfinetar a zona de conforto brasileira. Afinal de contas, viajar é exatamente isso e é libertador demais fazer sozinha, só você e o mundo.

2 comentários:

  1. Não axo que esta seja uma questão por ser "mulher" (embora isto possa ser um agravante sob o ponto de vista de quem pergunta), mas algo cultural brasileiro mesmo.

    O brasileiro é muito sociável e, como tal, não foi muito educado para ser mega-independente e fazer as coisas sozinho (não só viajar). Existem muitas pessoas que nunca foram no cinema sozinho, ou mesmo moraram sozinho. Isto é muito interessante, eu me arriscaria a dizer que a maior parte dos brasileiros passa uma vida inteira sem nunca ter morado sozinho em momento algum da vida.

    Já conheci uma pessoa que gosta de outras companhias não pelo que elas próprias são, mas apenas por "ter companhia" (como se fosse um boneco ali do lado dela rs). Não consegue fazer quase nada sozinho.

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    1. Renato, realmente acho que o estranhamento causado por viajar sozinho é típico brasileiro mesmo, porque não percebo isso tão patente em pessoas de outras nacionalidades. Seguirei observando. :D

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