quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Perdida na gringa




Algumas reminiscências de viagens passadas, histórias engraçadas das muitas vezes que me perdi por aí e outras curiosidades.

É muito comum se perder no transporte público. Eu estudo previamente os mapas da rede de metrô/trem e busco informações para entender como funciona o sistema, já chego bem ambientada, mas é inevitável me perder de vez em quando. No fim sempre dá tudo certo. Aqui vão algumas histórias.

De todos os lugares que visitei, o sistema de transporte mais difícil foi em Berlim, principalmente porque os nomes das estações são absolutamente impronunciáveis, então é difícil até mesmo pedir informação. No meu primeiro dia na cidade, um frio horrível que parecia que eu ia morrer só de respirar aquele ar gelado, eu fiz um caminho a pé um pouco diferente do que eu planejava e acabei caindo em uma estação de trem diferente da que eu tinha imaginado. Era uma estação aberta e fiquei muito tempo parada na frente do mapa da rede tentando entender onde eu estava e que trem eu precisava pegar para chegar onde eu queria, chegou a bater um desespero de morrer de hipotermia antes de conseguir me localizar, mas finalmente consegui.

Vagar pela rua sem saber para que lado ir é absolutamente normal e acontece em 9 de cada 10 dias viajando. No Japão (especialmente em Quioto) foi bem frequente. No entanto, não achei o sistema de transporte japonês tão difícil quanto o alemão, pois as linhas recebem letras para identificar, as estações e mesmo as diferentes saídas de cada estação são numeradas. Mesmo assim, tenho uma história engraçada que ocorreu no meu primeiro dia em Osaka. Peguei o metrô na estação mais próxima do meu hostel e gravei bem na memória que na volta eu deveria pegar a saída 5 que era a mais próxima para voltar para o hostel (às vezes, se pegar uma saída errada em uma estação muito grande, pode ficar bem longe do local planejado). Na volta, ao chegar na estação procurei imediatamente pela saída 5 e achei tão engraçado que a escada era muito mais larga do que a escada estreita que eu havia visto na ida. Até voltei um pouco para conferir se aquela era mesmo a saída número 5. Convencida do número, mesmo subindo uma escada absurdamente mais larga do que deveria, saí da estação e me deparei com um lugar completamente diferente do que eu esperava. Fiquei chocada imaginando onde eu tinha ido parar. Bom, até hoje não sei porque nunca consegui voltar para casa depois disso. Brincadeira. Voltei para a estação, olhei o mapa da rede e vi que estava em uma estação diferente, que tinha o mesmo número da estação em que eu deveria estar, mas pertencia à outra linha. Tive que fazer o caminho inverso voltando para a estação de onde havia partido e finalmente pegando a linha certa para retornar para o hostel. Já era noite, levou cerca de meia hora e paguei um novo bilhete, mas deu certo. Mais sobre o Japão aqui.

Nesse artigo sobre o Japão contei o caso da minha boina perdida e encontrada dois dias depois no mesmo lugar. Aconteceu algo quase idêntico na Alemanha: derrubei uma luva ao parar para tirar fotos logo antes de entrar em uma loja, meia hora depois quando saí da loja já ciente de ter perdido o item e fazendo o mesmo caminho vi a minha luva sobre um banco. Alguém não apenas encontrou, mas se deu ao trabalho de juntar do chão e colocar em um local visível.

Sim eu admito que sou muito atrapalhada, pois mesmo no Brasil eu consigo me perder. Todas as vezes que passo pela estação da Luz em São Paulo eu me perco: não sei para que lado ir, não sei onde fica a linha certa, não sei onde é a saída. Já passei pelo menos uma dezena de vezes por lá, mas sempre me perco, não sei o que acontece.

Ainda analisando os sistemas de transporte público, algo de que sou absolutamente fã, as estações de metrô de Amsterdam são tão limpas, silenciosas e com um aspecto futurista. Eu realmente me sentia 20 anos no futuro. 

Por falar em Países Baixos, os holandeses são tão incrivelmente educados. Lembro que tomei bastante chuva procurando a casa da Anne Frank (eu estava do lado errado da rua e fiquei em um domingo de manhã andando para um lado e para outro que nem barata tonta na chuva e no frio). Quando cheguei na fila para entrar no prédio, uma mulher que trabalhava na casa veio muito educada perguntar se eu queria um guarda-chuva para esperar na fila. Eu estava bem molhada naquela altura, não fazia muita diferença alguns minutos a mais parada na chuva, mas ela insistiu tão gentil e educadamente que era grátis e para eu não me molhar que era irrecusável.

Já pensaram que eu era gringa no aeroporto de Guarulhos. Na verdade, chega a ser um clichê porque eu escuto com frequência das pessoas que encontro em viagens: oh mas você não parece brasileira, você é tão diferente dos outros brasileiros que eu conheço. Precisamos disseminar melhor o clichê de que qualquer um pode ser brasileiro porque brasileiro não tem cara.

Os brasileiros não apenas não tem cara como estão em todos os lugares. Sempre escutei alguém falando português (já ia escrever “falando brasileiro”) na rua em algum momento em todos os países por onde passei. A única exceção foi Berlim.

Engraçado que geralmente são os brasileiros que se surpreendem quando eu digo que estou viajando sozinha. Já escrevi sobre isso aqui. O pior é que geralmente a pergunta que surge é: “mas tu não tem uma amiga para viajar contigo?” Meu Deus, vamos normalizar o fato de que mulheres podem viajar sozinha e não precisam de uma amiga a tiracolo. 

Para terminar, eu tenho uma teoria de que em caso de se estar perdido em um lugar, basta seguir o grande grupo de turistas chineses que com certeza estará logo ali. Eles têm guias, estão em grupos enormes, com certeza sabem onde estão indo.


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