terça-feira, 8 de janeiro de 2019

A maravilhosa sensação de deixar ir...



Sabe aquele momento em que nos reconciliamos com a vida e com nós mesmos e nossas decisões do passado e podemos deixar ir, o que quer que seja? Um lugar, uma pessoa, uma experiência, uma história... Momentos que fizeram parte da nossa vida de algum modo, mas sabemos que não voltarão mais, é um tempo que já passou. E está tudo bem ter passado.
Essa sensação de deixar ir é libertadora. É o momento em que percebemos que está tudo bem não termos algo que queremos, que está tudo bem aquela história ou situação da qual sentimos saudades ter terminado. Aceitamos que ficou no passado, que por mais saudade que tenhamos não vai mais voltar. Estamos prontos para deixar ir sem dor e continuar nosso caminho em busca de novas e melhores histórias.



sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Sobre aplicativos de paquera



Já fui uma entusiasta dos aplicativos de paquera como uma boa forma de conhecer pessoas. Utilizei em diversos momentos de solteirice, nem sempre com o propósito de paquerar, mas principalmente para conhecer pessoas, trocar ideias e ter boas conversas. Os aplicativos são um aleatório e desordenado recorte da sociedade da vida real: há pessoas procurando romance, encontros casuais, amizades, gente perdida, doida, inteligente... Encontrei de quase tudo e dei risada com as coisas com as quais me deparei - fossem os clássicos do Tinder como descrições do tipo “quem se descreve se limita” ou “dê o seu melhor sorriso que eu o multiplicarei”, fossem as histórias que ouvi e vivi.
O meu ponto era de que os aplicativos seriam uma ótima maneira de conhecer pessoas que de outro modo não cruzariam o nosso caminho. Já tive ótimas conversas desse modo, de todo tipo, conversas inteligentes, conversas engraçadas, com pessoas muito parecidas ou muito diferentes de mim, conversas que me cativaram, conversas que não deram em nada. Eu achava que apesar de ser difícil levar para a vida real as pessoas da vida virtual, essa não deveria ser a principal preocupação, pois a graça era o caminho, não o final. O mais importante era conseguir conversas que me cativassem, sem me preocupar em onde aquilo iria parar. Conheci pessoas, fiz amigos e vivi romances.
Com o tempo fui ficando menos otimista. Todos aqueles “matchs” que não deram sequer um “oi”, todos aqueles “oi’s” que ficaram sem resposta, todas aquelas conversas que ficaram no vácuo vão desanimando (confesso que também deixei conversas sem resposta por preguiça, falta de tempo ou desinteresse). Tentava não julgar, afinal de contas, vai que a pessoa que deu “aquele vácuo” simplesmente encontrou o amor da vida dela  justamente naquele dia? Ou estava ocupada demais com outras coisas para responder? Ous simplesmente não estava interessada o suficiente? Só que esses “vácuos” se tornam muito mais a regra do que a exceção. Parece que nada vale a pena, que ninguém vale o menor esforço. Ao mesmo tempo, descarta-se alguém ao menor sinal de diferença: qualquer mínimo desacordo é motivo suficiente para parar de falar e eliminar aquela pessoa. É mais fácil simplesmente ir em busca de alguém “mais perfeito” para interagir. Afinal de contas, é muito fácil deslizar o dedo em busca do próximo match em um cenário de ampla oferta de pessoas. Nesse contexto, a busca pelo próximo like é quase um vício, a “coleção de matchs” substitui os nostálgicos álbuns de figurinhas e o aplicativo para conhecer pessoas vira um brinquedo de colecionar fotos.
Tenho uma história engraçada. Anos atrás “dei match” com um rapaz. Ele era alguns anos mais novo do que eu, mas parecia ter uma cabeça muito boa. Conversamos a beça por vários dias, parecia que tínhamos uma boa sintonia e muitos assuntos. Queríamos nos encontrar mas não dava certo, sempre havia alguma coisa que impedia. Com o tempo levei um vácuo. Em seguida também conheci outra pessoa, namorei um bom tempo, fiquei solteira de novo, a vida seguiu seu curso. Recentemente, cerca de 3 anos depois daquele match, encontrei ele de novo no Tinder (já havia desfeito os matchs antigos). Reconheci a foto e “dei like” achando que ele jamais lembraria de mim. Recebi a notificação do match e puxei assunto sem mencionar o passado. Não é que ele lembrava de mim? Lembrava dos assuntos que tínhamos conversado, de como nos demos bem nas conversas e que queria sim ter me encontrado. Chegou a pedir desculpas pela atitude do passado. Pensei: bom, tudo tem seu tempo para acontecer, talvez 3 anos atrás não era o momento certo, a vida tem dessas coisas. Convidei novamente ele para sair, algo despretensioso e simples, só para nos conhecermos. A resposta que obtive? O silêncio.
Não tenho explicação, mas queria muito ter. Seria tão legal se ao menos recebêssemos um feedback: “olha fulana, até achei você interessante, mas não estou interessado de verdade em te conhecer, não me identifiquei por esse ou aquele motivo ou mesmo por motivo nenhum, só não quero”. Qualquer coisa com um mínimo de honestidade. Mas isso não acontece em apps de paquera. Somente temos o silêncio e a necessidade de aprender a lidar com a rejeição de alguém que nem é importante, nem faz diferença na nossa vida, mas que não quis nem mesmo nosso convite para um sorvete.
(Hello pessoal do Tinder, se estiverem me lendo, que tal incluir uma função que obrigue os usuários a dar um feedback para as conversas após algum tempo de inatividade?)
Talvez eu que seja direta demais e espere o mesmo das pessoas, sem joguinhos. Há quem diga que o silêncio seja a melhor resposta, mas discordo. Prefiro palavras.
Com esse texto, tento fazer esse contraponto entre a maravilhosa possibilidade de conhecer pessoas diferentes que somente a internet nos possibilita e a dificuldade de fazer isso em uma sociedade de pessoas desinteressadas, em que contatos humanos se perdem facilmente e a paquera olho no olho está quase extinta. Não tenho uma solução mágica, um “modus operandi” que faça as coisas funcionarem melhor. Gostaria que fosse diferente? É, gostaria. Mas aceito o sistema dado e tento tirar o melhor proveito dele. Ou então tento me afastar dele quando algo ou alguém me faz perceber que não vale a pena participar, que há vida mais interessante lá fora. ;)

Fonte da imagem: https://pixabay.com/pt/comunica%C3%A7%C3%A3o-comunicar-se-3095540/