segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Ghosting




Ghosting é um termo em inglês usado para se referir a términos de relações (não necessariamente sérias) sem explicação. É quando a pessoa some e “deixa o outro no vácuo”. Parece que é cada vez mais comum nesse mundo de relações efêmeras. Na internet há muitos textos com histórias e análises do que já é considerado uma moda. Moda feia essa.
Como diz uma banda chamada Vespas Mandarinas - que eu descobri há pouco tempo - em sua música “Distraídos Venceremos”, “a gente grita porque às vezes o silêncio é mais ensurdecedor”. Ah aquele silêncio que não tem explicação, que nos tortura, que não sabemos se será ou não eterno. Um silêncio sem resposta, que não nos deixa entender, que gera apenas dúvidas. 
Pessoalmente já vivi isso algumas vezes. Tenho algumas dessas histórias que costumo brincar que eu nunca vou entender. Contei uma delas aqui. Dizem que a gente não pode insistir, que não adianta mostrar interesse, correr atrás. Concordo em partes apenas. Nesse mundo de pessoas desinteressadas, acho que vale a pena mostrar interesse, se abrir, tentar. Um mero “está tudo bem?” e “gostaria de conversar” ou qualquer coisa que represente o nosso grito para acabar com o silêncio ensurdecedor que me referi no parágrafo acima é uma abertura para que a outra parte tenha a chance de explicar seu afastamento caso queira. Caso o silêncio continue sendo a única resposta, nesse caso não há nada que se possa fazer. Quando nos importamos, inevitavelmente vai doer, mas também vai passar, como tudo na vida.
É tão fácil terminar uma história de uma forma bonita. Explicar seu afastamento, ainda que não haja uma explicação muito clara. Quem sabe um feedback ajude a outra pessoa a aprender e a ser uma versão melhor de si mesma ou gere uma reflexão.
E é tão fácil terminar uma história de uma forma feia como essa, com o ghosting. Às vezes é uma história que poderia ser uma lembrança bonita, ainda que tenha acabado, mas que quando termina dessa forma, com desinteresse, sem explicação, sem um fechamento claro, deixa apenas esse sabor amargo.
Comecei esse texto querendo falar do assunto, mas sem saber muito bem onde queria chegar. Não tenho pretensão de entender os casos de ghosting que vivenciei e muito menos de oferecer uma solução para essa prática. Tudo bem o vácuo quando é alguém que não conhecemos direito, que mal conversamos, que também não está nem aí. O problema mora quando é alguém que pretendemos ter na nossa vida, ainda que como amigo, como conhecido, como alguém com quem se viveu uma história, mas que simplesmente nos afasta sem explicação. Talvez escrever seja apenas uma forma de dizer que esse tal ghosting faz parte da vida, por mais difícil que seja entender.
Ainda acredito em viver histórias, em ser feliz com pessoas sinceras, em aprender com quem cruza o meu caminho. Meu receio é que a já citada banda Vespas Mandarinas esteja certa ao cantar em "Amor em tempos de cólera" que “Um amor que chega como um alarde amanhã se despede furtivo”.




terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Nada foi por acaso





Gosto dos encontros que a vida me proporciona. São partes interessantes das surpresas da vida: as pessoas extraordinárias que ela coloca em nosso caminho. Você foi um desses encontros inesperados e despretensiosos. É aquela pessoa que fala de ideias e de lugares ao invés de apenas falar de coisas e de pessoas com perguntas vazias e respostas lacônicas. Agradeço por encontrar uma dessas raras pessoas que muito me instiga e desperta minha curiosidade. Com suas ideias e histórias você prendeu a minha atenção de um modo que poucos conseguem. 
Seja criando piadas internas como nosso negócio clandestino e mafioso com alto potencial de retorno, seja desenvolvendo as nossas teorias sobre encontros e cantadas, dominamos as palavras de uma forma leve, descontraída e inteligente. Porque digo com certeza que não sou apenas eu que sou boa na arte das palavras, encontrei alguém a altura. Só precisava mesmo de um empurrãozinho para perguntar que horas eu durmo.
Amei a forma como a sua história é o exemplo vivo de muitas coisas em que eu acredito. Ela me mostrou o poder das escolhas e do nosso protagonismo diante da vida e também a forma perfeita e singular que os caminhos que percorremos tomam para nos levar aonde devemos estar e nos proporcionar as vivências que precisamos. É a vida paulatinamente encaixando suas pecinhas entre erros e acertos, encontros e desencontros, ilusões e sonhos. 
Agora, “escute garoto” eu percebi que nosso encontro meio que é descrito pela nossa banda favorita da vida. Afinal, aquele dia “o céu estava pesado, vinha chegando temporal” e o “tempo escorria dos dedos da nossa mão”, mas “quando o tempo fecha e o céu quer desabar” está tudo bem, “não faz a menor diferença, quando a gente pensa no que ainda pode ser”.
Começou bem antes na verdade, contigo me falando de músicas, de lugares, de impressões ao invés de seguir as “variações de um mesmo tema” que todos seguem e “me pedir explicação, o filme favorito, o time do coração”. Não é mesmo muito melhor tentar descobrir “afinal o que é rock’n’roll?”. Além de percebermos que “nós dois temos os mesmos defeitos” (ou seriam qualidades?) nós até criamos o “crime perfeito” e “que não deixa suspeitos”.
Quando saímos “pra conhecer a cidade”, pois estávamos “longe demais das capitais”, “sentados na mesa de um bar” “nós “vibramos em outra frequência” e não quisemos “fazer como todo mundo faz”. Ainda bem que eu não esqueci “as chaves, mas que cabeça a minha”, pois “teus lábios eram labirintos, que atraem os meus instintos mais sacanas”.
Eu “nunca faço o que eu não tô afim de fazer”, pois eu “já vivi tanta coisa” e “tenho tantas a viver”, mas te encontrar era algo que eu queria e “eu posso estar completamente enganada, eu posso estar correndo pro lado errado” mas “quando eu te vi, tive certeza de que não seria a última vez”, afinal “você que tem ideias tão modernas” me fez refletir  sobre “o que faz as pessoas parecerem tão iguais?” enquanto eu fitava “olhos iguais aos meus”. “Tenho muito mais dúvidas do que certezas”, mas naquele dia “eu só tinha você”.
No outro dia “eu acordei mais leve”, “procurei a noite na memória” e “a sombra do sorriso que eu deixei” quando te dei tchau.
“Façamos um trato, você desliga o telefone se eu ficar muito abstrata”?
Então “um dia desses, num desses encontros casuais, talvez a gente se encontre, talvez a gente encontre explicação”. Agora, “se tu quiseres saber quem eu sou”, “vá em frente, meu amigo”, “me diz como é que eu faço, me diz como é que eu posso te encontrar mais uma vez”.


quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Algo que aprendi em 2019



Uma das lições que aprendi em 2019 é que o silêncio às vezes é a melhor resposta.
Que batido, eu sei.
Sempre fui uma pessoa de palavras, talvez por isso goste tanto de escrever. Nunca fui de silêncios. Gosto de explicar pensamentos e sentimentos. Isso sempre foi importante para mim em relacionamentos interpessoais em que em geral sou adepta do “fala na cara” e do deixar claro minha forma de pensar.
Então 2019 me ensinou que com frequência existem coisas que não devem ser ditas ou que não precisam ser ditas ou que não valem a pena serem ditas. Principalmente que não valem a pena serem ditas. Existem sentimentos e ações que não valem a pena serem explicados, que às vezes um dar de ombros é a melhor forma de responder à altura quando o ouvinte não está interessado em escutar.
Com frequência responder com o silêncio quando não há nada para dizer, quando não existe interesse da outra parte em ouvir ou quando não se encontra um terreno fértil para semear ideias é mesmo o melhor a fazer, é uma forma de se resguardar, de manter intactos pensamentos que são apenas nossos e que uma vez espalhados ao vento não encontrariam nenhuma reciprocidade. 
Não dar tantas explicações também é uma boa forma de se preservar. O que gostamos, queremos e fazemos nos pertence, não precisamos dar explicações quando não queremos de fato dar explicações. Um mero sim ou não é suficiente na maioria dos casos, sem serem seguidos por uma justificativa.
Parece uma lição dura. Acho que é mesmo. No entanto, é uma lição importante. Evita explicações desnecessárias, evita alguns constrangimentos e evita frustrações por não obter as respostas esperadas ou por obter resposta nenhuma. Do mesmo modo, às vezes tudo que nos resta a fazer é dar as costas e ignorar, seguindo em frente.
É algo que quero colocar em prática cada vez mais em 2020.