quinta-feira, 4 de julho de 2019

Um mês sem redes sociais




Já fazia muito tempo que eu queria fazer um detox de redes sociais. No meu caso, só utilizo Facebook (nunca me atraiu o modelo do Instagram, felizmente). Já havia lido os livros “Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais” de Jaron Lanier e “A geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros” de Nicholas Carr, esse segundo bem mais abrangente e impactante que me abriu os olhos para muitas coisas que eu já via percebendo, além de blogs que falavam desse detox tão necessário. Também tinha plena consciência de que perdia muito tempo rolando o feed do Facebook. Queria adquirir o hábito mais saudável de gastar esse tempo com coisas mais úteis. Já havia deletado outros apps que me faziam perder tempo sem benefício real (joguinho do Simpsons e Tinder). Queria viver mais a “vida real”.
Nessa esteira, “descurti” várias páginas que não agregavam e apaguei o app do Facebook do celular o que diminuiu o tempo que eu perdia, mas ainda não era o suficiente, pois muitas vezes acabava abrindo o Facebook no navegador do celular ou computador. Já havia percebido que isso era só um hábito ruim que fazia parte de um looping: tédio, pegar o celular, abrir o Facebook…
Então resolvi testar uma versão mais extrema: definitivamente não abrir o Facebook por um mês. Um trato comigo mesma com a promessa de que eu poderia aproveitar para escrever sobre isso. Qualquer coisa que gere uma boa pauta para escrever tem sido vista com bons olhos ultimamente. Foi a deixa perfeita.
No dia 04/06 resolvi que pelos próximos 30 dias não acessaria o Facebook. 
Vejamos o que aconteceu nesse mês…
Não nego que às vezes deu sim vontade de entrar no Facebook. Não tanto para rolar o feed sem pensar muito a respeito, mas mais para futricar algo específico que lembrava ou então para olhar uns memes. Nesses momentos eu tinha que repetir para mim mesma que eu não precisava futricar o que quer que estivesse com vontade de futricar porque não acrescentava nada à minha vida. A medida que os dias iam passando, a vontade arrefecia. Uns dez dias depois de parar, já não tinha vontade de acessar. Livre do looping e sem vontade de futricar ou perder tempo.
Confesso que a perspectiva de escrever sobre a experiência me animou bastante a continuar sem acessar. Escrever é mesmo terapêutico.
Aos poucos eu também ia pensando que não fazia diferença nenhuma eu saber as últimas novidades expostas no Facebook, afinal, além de não afetarem a minha vida, eu não tenho nenhum poder sobre as experiências e notícias divulgadas pelos meus contatos. Também comecei a pensar no quanto expor a minha vida ali é desnecessário e irrelevante. Tanto faz para as outras pessoas saber o que estou fazendo ou pensando, se a grande maioria delas não participa efetivamente da minha vida. Mais ainda, pouco importa para mim o que as outras pessoas pensam da minha vida. Não quero mais esse tipo de exposição que nada acrescenta, nem para um lado nem para o outro.
Comecei a questionar também os motivos de manter o Facebook. Eu sempre dizia que gostava de manter a conta porque era uma forma de manter contato, ou ao menos não perder totalmente de vista, aquelas pessoas que eu conheci, mas não tenho chance de conviver. Só que eu nunca de fato interajo com essas pessoas.  Nesse caso, que diferença faz? No máximo fico sabendo quando alguém casa ou tem filhos, isso quando a pessoa posta a respeito no Facebook. Me questiono então a relevância de manter esse tipo de contato. Não que eu não gostaria de falar mais com uma porção de pessoas que estão distantes, mas que eu considero pacas. Só que a ferramenta não está sendo efetiva no cumprimento desse objetivo, seja por preguiça, seja por falta de assunto, seja por falta de tempo. Então de que adianta? Não sei se algum tipo de ferramenta tecnológica é de fato efetiva nesse sentido. 
Com essa reflexão em mente e embalada por uma onda de saudosismo que surgiu um dia, lembrando de coisas boas do passado, pensando nos momentos que deixaram uma saudade boa e que na época que aconteceram - quando eram presente e não passado - eu nem poderia imaginar que um dia deixariam tanta saudade, no último final de semana, cinco dias antes de completar um mês, entrei no Facebook. Pode ser considerada uma recaída, mas não foi para rolar o feed e perder tempo. Foi porque realmente quis escrever para algumas pessoas com quem eu não falava há muito tempo. Enviei algumas mensagens, conversei com alguns amigos lembrando de coisas do passado e sabendo notícias e fiquei contente pelo meu saudosismo embora com aquele apertinho no peito típico de quem tem consciência do fluxo inexorável da vida. (Ei, poxa, preciso demais escrever sobre isso também!)
Não posso dizer que um milagre se operou na minha vida e, graças ao tempo que não desperdiço mais rolando feeds intermináveis, agora sou outra pessoa, pois li mais livros, me exercitei regularmente, dormi melhor e passei mais tempo com a minha família. Não, não vivenciei esse tipo de milagre e nem experimentei um mês de vida perfeita, ativa e produtiva. Li bons livros, assisti bons filmes e séries, tomei chimarrão com a minha família, andei de bike, fiz algumas festas, trabalhei bastante, cuidei dos cachorros de rua que eu alimento (um oi especial para o Cão e a Suka, meus companheirinhos) e dediquei algum tempo ao ócio. A diferença é que acho que me concentrei mais em cada uma dessas atividades. Procurei, a cada dia que passava, me dedicar mais de modo completo a atividade do momento, fosse qual fosse, sem buscar outras distrações. Apenas me concentrar no livro, no filme, no trabalho, no cachorro ou na pessoa que estivesse por perto. É um exercício constante esse. Depois de tantos anos sofrendo com distrações sempre disponíveis, fazendo várias coisas ao mesmo tempo, é um pouco estranho voltar a “fazer uma coisa só”. Exige um pouco de disciplina até. Vamos aos pouquinhos nos ajustando.
Não sei o que vou fazer com o Facebook após este mês, após constatar que de fato, não perdi nada e não mudou nada eu não ter acessado a rede. Ainda existem todos aqueles acessos a sites que fizemos com o login do Facebook. Ainda existem as pessoas que eu ainda quero contatar. Ainda existem algumas postagens antigas que eu gosto de relembrar. Acho que por enquanto vou deixar ele lá, quietinho, vendo se vai fazer falta em algum momento. Porque um mês é pouco tempo de desintoxicação. 
Acho que ficar um mês fazendo esse tipo de detox digital, ainda que parcial, é um ótimo exercício de disciplina também. Porque percebi que a maior parte do acesso a esse tipo de rede se dá pela força do hábito, nem paramos para analisar. Então, fazer alguns exercícios de disciplina que visem mudanças de hábitos salutares é muito interessante, até porque faz a gente se observar melhor, se conhecer melhor. Não posso deixar de comparar a mudança na alimentação que venho fazendo visando reduzir drasticamente a quantidade de doces ingerida (e sim, quero escrever sobre isso também): tudo é uma questão de se disciplinar a fazer ou não fazer algo e criar hábitos, preferencialmente aqueles que se sustentam com o tempo.
Buscando agora mais e melhores experiências sociais reais. Que realmente gerem memórias e impactem a minha vida.