quarta-feira, 23 de março de 2022

Um pouco mais de nós dois

 



Nosso relacionamento me ensina tanto sobre escolhas e sobre liberdade. Sobre escolhas porque estar juntos é uma escolha que fazemos a cada dia. O mais legal foi que escolhemos estar juntos desde o momento que nos conhecemos. Entre tantas pessoas que nos cercavam, é sempre um com o outro que escolhemos estar. Sobre liberdade porque é um sentimento sem dúvidas, sem joguinhos, sem amarras, sem conveniências, feito apenas de simplicidade e cumplicidade. Existe algo mais libertador do que isso? 

Nós, as nossas mochilas, sair para comer, para andar pela rua e curtir a cidade. Viver um dia de cada vez. Desde as experiências mais ordinárias do dia a dia às mais únicas que somente uma viagem proporciona, todas elas são melhores e mais incríveis ao teu lado.

As semanas passam, às vezes um dia se confunde com outro em meio a rotina de viagem, a cada dia passamos tanto tempo juntos que parece ser muito mais tempo. Então eu percebo que são somente algumas semanas. É uma vida interessante a que levamos, uma vida sem pesos, despreocupada, sem rótulos. E eu não poderia ter imaginado algo melhor para mim nesse momento da vida. Nem ninguém melhor do que você. Alguém que me trata com tanto respeito, consideração e carinho.

Nada sei sobre o nosso futuro. O que sei é que em poucos dias quase já tínhamos virado uma instituição naquele hostel e respondíamos com um riso no rosto que acabáramos de nos conhecer mesmo quando todos pensavam que estávamos juntos há muito tempo. Porque na verdade para nós é mesmo muito tempo. Parece que te conheço de longa data. Desde o primeiro dia saímos para descobrir a cidade como velhos amigos. 

Agora vejo nosso relacionamento em perspectiva, relembro momentos e percebo o quanto me sinto bem ao teu lado. Gosto de estar só, mas estar contigo é minha escolha diária, consciente, deliberada. Vivemos uma história linda nesta cidade, mas agora eu me empolgo com a ideia de todas as primeiras vezes que ainda temos pela frente, de tudo que ainda podemos ser e fazer. Agora, “eu quero um pouco mais de nós dois”, quero “tudo que faça meu dia melhor” e quero “enxergar o teu mundo”. Que sigamos com a mesma leveza, doçura e cumplicidade que tivemos até aqui. 

Levo muitas lições do nosso encontro, das nossas conversas. Levo também a certeza de que a vida aproxima as pessoas que se completam, que se complementam. Obrigada por acreditar em mim e me mostrar que eu posso fazer o que eu quiser, por me ajudar a confiar de novo e ser melhor.




Fonte da imagem: Balões Coração Céu - Foto gratuita no Pixabay

Trechos entre aspas: música “Por causa do calor” - Vera Loca


Sobre vinhos, viagens, alfajores e conexões

 




Tudo começou naquele domingo despretensioso. Não estávamos sentados na mesa de um bar, mas na sala de estar de um hostel qualquer e eu jamais poderia imaginar que aquele cara que acabara de chegar sentado à minha frente contando das suas aventuras nos Bálcãs (Belgrado, não Bulgária, eu sei) iria se tornar a minha companhia perfeita nas semanas seguintes.

Os dias corriam entre conhecer muitas pessoas, comer muita carne, descobrir a cidade e viver a rotina de hostel, mas no meio de tudo isso, a cada dia mais eu ansiava por estar na tua companhia e ouvir a tua voz contando as histórias que eu adoro escutar. No meio de tudo isso eu fui percebendo que você ansiava por mais do que somente a minha amizade. Ainda bem. Foi difícil para mim, mas que bom que eu resolvi dar só uns beijos para passar o tempo e deixei tudo acontecer. Agora não é mais só uns beijos, definitivamente.

Às vezes eu sinto que você tem uma tristeza que te acompanha. Eu tenho tanto respeito pelo que quer que você tenha vivido e sei que não cabe a mim de maneira nenhuma desvendar esse sentimento ou levantar essa cortina, pois sei que é muito pessoal,  mas eu quero que você saiba que eu sinto uma vontade imensa de te abraçar e com o meu abraço lançar um raiozinho que seja de contentamento e deixar você feliz, em paz e com o coração quentinho.

Quase adotamos um cachorrinho português até, pena que ele preferiu explorar a cidade com companhia importada né.

Obrigada pelas comidinhas tão carinhosamente preparadas, pela companhia nos momentos mais aleatórios (seja para comprar repelente às 23 horas, seja para ouvir música clássica no centro cultural). Especialmente, obrigada pela companhia para beber Malbec e tornar o vinho tão interessante para mim. Desde escolher os vinhos da semana até sentar para desfrutá-los só fez a nossa cumplicidade aumentar. 

Espero ser para você sempre algo leve e doce e que meu tijolinho escondido não interfira demasiado. Não sabemos o que o futuro nos reserva, mas não importa, já construímos a melhor história e estou a cada dia aprendendo contigo, voltando a vida e curtindo essa fase boa. 

Ah, só para terminar, outra lição que eu aprendi com você: fique com alguém que te defenda como você defende aquele alfajor de Chernobyl. :)


Fonte da imagem: Vinho Tinto Óculos Lareira - Foto gratuita no Pixabay

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Perdida na gringa




Algumas reminiscências de viagens passadas, histórias engraçadas das muitas vezes que me perdi por aí e outras curiosidades.

É muito comum se perder no transporte público. Eu estudo previamente os mapas da rede de metrô/trem e busco informações para entender como funciona o sistema, já chego bem ambientada, mas é inevitável me perder de vez em quando. No fim sempre dá tudo certo. Aqui vão algumas histórias.

De todos os lugares que visitei, o sistema de transporte mais difícil foi em Berlim, principalmente porque os nomes das estações são absolutamente impronunciáveis, então é difícil até mesmo pedir informação. No meu primeiro dia na cidade, um frio horrível que parecia que eu ia morrer só de respirar aquele ar gelado, eu fiz um caminho a pé um pouco diferente do que eu planejava e acabei caindo em uma estação de trem diferente da que eu tinha imaginado. Era uma estação aberta e fiquei muito tempo parada na frente do mapa da rede tentando entender onde eu estava e que trem eu precisava pegar para chegar onde eu queria, chegou a bater um desespero de morrer de hipotermia antes de conseguir me localizar, mas finalmente consegui.

Vagar pela rua sem saber para que lado ir é absolutamente normal e acontece em 9 de cada 10 dias viajando. No Japão (especialmente em Quioto) foi bem frequente. No entanto, não achei o sistema de transporte japonês tão difícil quanto o alemão, pois as linhas recebem letras para identificar, as estações e mesmo as diferentes saídas de cada estação são numeradas. Mesmo assim, tenho uma história engraçada que ocorreu no meu primeiro dia em Osaka. Peguei o metrô na estação mais próxima do meu hostel e gravei bem na memória que na volta eu deveria pegar a saída 5 que era a mais próxima para voltar para o hostel (às vezes, se pegar uma saída errada em uma estação muito grande, pode ficar bem longe do local planejado). Na volta, ao chegar na estação procurei imediatamente pela saída 5 e achei tão engraçado que a escada era muito mais larga do que a escada estreita que eu havia visto na ida. Até voltei um pouco para conferir se aquela era mesmo a saída número 5. Convencida do número, mesmo subindo uma escada absurdamente mais larga do que deveria, saí da estação e me deparei com um lugar completamente diferente do que eu esperava. Fiquei chocada imaginando onde eu tinha ido parar. Bom, até hoje não sei porque nunca consegui voltar para casa depois disso. Brincadeira. Voltei para a estação, olhei o mapa da rede e vi que estava em uma estação diferente, que tinha o mesmo número da estação em que eu deveria estar, mas pertencia à outra linha. Tive que fazer o caminho inverso voltando para a estação de onde havia partido e finalmente pegando a linha certa para retornar para o hostel. Já era noite, levou cerca de meia hora e paguei um novo bilhete, mas deu certo. Mais sobre o Japão aqui.

Nesse artigo sobre o Japão contei o caso da minha boina perdida e encontrada dois dias depois no mesmo lugar. Aconteceu algo quase idêntico na Alemanha: derrubei uma luva ao parar para tirar fotos logo antes de entrar em uma loja, meia hora depois quando saí da loja já ciente de ter perdido o item e fazendo o mesmo caminho vi a minha luva sobre um banco. Alguém não apenas encontrou, mas se deu ao trabalho de juntar do chão e colocar em um local visível.

Sim eu admito que sou muito atrapalhada, pois mesmo no Brasil eu consigo me perder. Todas as vezes que passo pela estação da Luz em São Paulo eu me perco: não sei para que lado ir, não sei onde fica a linha certa, não sei onde é a saída. Já passei pelo menos uma dezena de vezes por lá, mas sempre me perco, não sei o que acontece.

Ainda analisando os sistemas de transporte público, algo de que sou absolutamente fã, as estações de metrô de Amsterdam são tão limpas, silenciosas e com um aspecto futurista. Eu realmente me sentia 20 anos no futuro. 

Por falar em Países Baixos, os holandeses são tão incrivelmente educados. Lembro que tomei bastante chuva procurando a casa da Anne Frank (eu estava do lado errado da rua e fiquei em um domingo de manhã andando para um lado e para outro que nem barata tonta na chuva e no frio). Quando cheguei na fila para entrar no prédio, uma mulher que trabalhava na casa veio muito educada perguntar se eu queria um guarda-chuva para esperar na fila. Eu estava bem molhada naquela altura, não fazia muita diferença alguns minutos a mais parada na chuva, mas ela insistiu tão gentil e educadamente que era grátis e para eu não me molhar que era irrecusável.

Já pensaram que eu era gringa no aeroporto de Guarulhos. Na verdade, chega a ser um clichê porque eu escuto com frequência das pessoas que encontro em viagens: oh mas você não parece brasileira, você é tão diferente dos outros brasileiros que eu conheço. Precisamos disseminar melhor o clichê de que qualquer um pode ser brasileiro porque brasileiro não tem cara.

Os brasileiros não apenas não tem cara como estão em todos os lugares. Sempre escutei alguém falando português (já ia escrever “falando brasileiro”) na rua em algum momento em todos os países por onde passei. A única exceção foi Berlim.

Engraçado que geralmente são os brasileiros que se surpreendem quando eu digo que estou viajando sozinha. Já escrevi sobre isso aqui. O pior é que geralmente a pergunta que surge é: “mas tu não tem uma amiga para viajar contigo?” Meu Deus, vamos normalizar o fato de que mulheres podem viajar sozinha e não precisam de uma amiga a tiracolo. 

Para terminar, eu tenho uma teoria de que em caso de se estar perdido em um lugar, basta seguir o grande grupo de turistas chineses que com certeza estará logo ali. Eles têm guias, estão em grupos enormes, com certeza sabem onde estão indo.


Fonte da imagem:

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Devaneios de pandemia

 

Mais de um ano vivendo em pandemia, entre altos e baixos. Os altos nunca são muito altos e os baixos são sim muito, muito baixos. Me pergunto se um dia esse modo de viver pandêmico será somente uma vaga lembrança de um período ruim. Porque, às vezes, é difícil lembrar de como era a vida antes de termos o covid-19 entre nós. Aqueles tempos de usar batom vermelho, de sair para encontrar pessoas, de andar na rua sem medo, de viajar, de usar brincos sem prender as orelhas na máscara, de conhecer gente nova, de dar abraços. 

Faz tempo que queria escrever sobre esse período. Não porque eu tenha qualquer coisa boa para escrever, não mesmo, e não porque queira me lembrar dos anos de 2020 e 2021 um dia. É por necessidade de colocar para fora as angústias, na esperança de que isso ajude. 

Às vezes, eu sento no sofá no final da tarde e fico me perguntando se é muito cedo para ir para cama. Porque eu só quero que o tempo passe, dormindo talvez passe mais rápido. Esses são os baixos de que falei no início. Os mais baixos são os dias em que eu nem quero levantar da cama, que eu levanto apenas para o estritamente necessário e volto. Se for um dia menos ruim eu assisto televisão e escuto podcasts. Queria contabilizar quantas horas de podcasts já escutei desde que iniciou a pandemia. Tenho certeza que são centenas. Conseguir escutar podcast é um alívio, porque nos dias mais sombrios, nem em escutar eu consigo me concentrar. 

Percebo o quanto estou ansiosa pela comida que consumo. Incontáveis idas ao supermercado para preencher o vazio da minha vida com comida. Cá estão dez novos quilos desde que a pandemia iniciou. Dos males o menor. Li várias reportagens sobre como as pessoas engordaram na pandemia. Engordaram, envelheceram e estão mentalmente desgastadas e doentes. Paciência. Ainda consigo vestir a maioria das roupas, especialmente as velhas que são repetidamente usadas. Também estou dois anos mais velha desde o início dessa nova vida.

A maior contradição de todas é o meu novo emprego em regime home office. Ele acaba comigo. Sento na frente do computador para vestir uma máscara, representar uma personagem caricata: alguém solidária, que se importa, que gosta do que faz, bem-humorada, quase alegre. Tudo uma mentira. O contraditório é que eu sou ótima representando esse papel. Até eu me surpreendo com o quanto sou boa fingindo. Parece fácil, mas é mais esgotador do que parece. 

É contraditório porque eu absolutamente amo aprender. Percebi que quando aprendo sou feliz. Me sinto em evolução. Me sinto desafiada e isso é incrível. Uma pena que ainda não saiba o que eu gostaria de aprender para seguir como profissão. Outra contradição. Sei que não é o que eu faço atualmente. Me sinto um desperdício.

Esses últimos vinte meses parecem todos meio iguais já. Como um sonho meio desbotado. Sempre os mesmos dias intermináveis, se repetindo sempre da mesma forma. São raras as vezes que eu saio de casa para além do supermercado, dá até para contar nos dedos. São raras as pessoas que eu vejo. É como se eu não tivesse mais uma vida. Acordar de manhã e pensar que tudo vai se repetir, sem surpresas, um dia exatamente igual ao anterior, sem nada especialmente bom ou animador, sem nenhuma emoção, é a pior parte. Sempre as mesmas coisas, sem nenhuma esperança de novidade. É como se eu não fosse mais a protagonista da minha própria vida, como se eu fosse apenas um fantoche vivendo esse sonho apagado. 

Tem dias que me pergunto como será o tal do novo normal. Nunca mais conhecer pessoas novas por medo de se contaminar se não com covid, com alguma outra doença. Logo eu que adoro conhecer gente. Nunca mais se aglomerar demais, shows e festas parecem algo do outro mundo. Nunca mais viajar sem restrições. Abraços só se forem com uma dose de medo adicionada. Não gosto desse mundo novo.

Acho que este texto está cheio de interrupções, de pontos finais, de frases curtas. Exatamente como meus pensamentos. Especialmente aqueles que me atormentam no meio da noite quando eu perco o sono: o pessimismo, a sensação de ser um fracasso, a incerteza, a indecisão sobre quem eu quero ser e o que eu quero fazer, a sensação de não ser boa o suficiente para nada, o medo de não merecer nada de bom. É uma espécie de auto tortura. Eu verdadeiramente gostava da pessoa que eu era antes da pandemia. Eu me sentia bem comigo mesma e agora eu me sinto assim. 

A pior parte é perceber que a pandemia está me tornando uma pessoa pior do que eu era e não melhor. Não sinto como se eu estivesse progredindo, me tornando um ser humano mais forte, mais dócil, mais cheio de predicados. Fico imaginando se nos períodos da História repletos de incertezas, como guerras, as pessoas que viveram esses momentos depois se sentiram melhores, mais vivas e conseguiram ser mais felizes. Eu temo que isso não aconteça, que reste somente uma versão pior de mim mesma, mais entristecida e com menos energia e menos força de vontade.

Queria escrever um final bacana para esse texto, um final esperançoso. Não. Já foi um pouco duro escrever tudo isso, o registro do que a minha vida se tornou, algo oco. Mesmo que milagrosamente a pandemia acabasse em um estalar de dedos, o meu sonho borrado continua da mesma forma. Um dia após o outro, já foram tantos, talvez um dia seja diferente. Quem sabe um dia será diferente não é mesmo?


domingo, 1 de agosto de 2021

Sobre aprender francês

 



A pandemia faz coisas malucas com as pessoas. Acho que no início do isolamento, quando as pessoas estavam levando as coisas a sério, todo mundo se animou um pouco com o tempo em casa para iniciar novos projetos. O meu projeto foi o francês. Surgiu da vontade de ocupar o cérebro com algo completamente novo, algo que eu nunca tivesse estudado antes. Comecei sem muita pretensão faz quase um ano e agora sou uma apaixonada pelo idioma.

Hoje quero falar sobre as coisas que acho legais no francês.

Dizem que a gramática francesa é difícil. Até pode ser, tem mesmo muitos detalhes, mas eu adoro estudar a gramática, ver a ordem no caos. Sou do time que acha que estudar gramática ajuda sim e muito a entender a língua. Por outro lado, os acentos do francês me deixam meio maluca! É muito acento! Tem palavras tipo générosité (generosidade) que tem 3 acentos! O som da letra “E” também é um pouco complexo para mim, mas o “R” rasgado do francês é incrível.

Uma das minhas palavras preferidas é lumière (luz). Também adoro oiseaux (pássaros) porque se não estudasse francês nunca saberia pronunciar corretamente e porque acho diferente essas palavras terminadas em x no francês - o x final é com frequência uma marca de plural para quem não sabe. Adoro réverbère (poste de luz) com esses acentos um para cada lado, mesmo não sendo uma palavra muito comum. O francês é tão incrível que torna bela até uma lata de lixo (que é poubelle). Outra palavra divertida é pourboire que é gorjeta, mas se formos separar “pour” é “para” e “boire” é “beber” - uma gorjeta para beber, que demais!

Na vida estudamos muito para ganhar dinheiro, para arranjar um emprego, para mudar de emprego, para de algum modo “subir na vida” então é legal que o francês na minha vida não tenha nenhuma dessas pretensões. Eu estudo porque gosto, porque amo aprender, porque adoro ser capaz de compreender uma língua nova e de decifrar novas palavras em um texto em francês ou escutar um vídeo ou podcast em francês e perceber que consigo entender. É um desafio pessoal, algo que eu faço para mim mesma. 

Dizem que é difícil manter a motivação quando não se tem um objetivo concreto com o idioma que se estuda. Discordo. Claro que tem semanas que me concentro menos, mas de um modo geral sigo motivada para aprender mais e melhorar mesmo sem um objetivo concreto. Quando aprendemos um idioma novo, um mundo inteiro se abre para nós, ganhamos toda uma cultura nova, antes inatingível: novos livros que podemos ler, novos blogs que podemos ler (ainda quero descobrir blogs em francês), novas músicas que passamos a compreender - eu jamais imaginaria que escutaria rap francês! E rap francês é bem divertido, é super difícil, mas é tão legal quando escuto uma música e entendo algumas frases no meio. 

Estudar um idioma é um baita exercício para o cérebro. Foi esse o meu principal motivo para começar uma nova língua. Inglês foi mais por necessidade e me esforcei muito para aprender, ainda tenho dificuldades, mas estou relativamente satisfeita com o meu nível de inglês, é o suficiente para viagens e interações sociais. Eu ainda precisaria progredir um pouco mais em inglês, mas é bem difícil fazer isso sozinha agora, não é muito animador. Então o francês é como um sopro novo de energia.

Tenho me sentido muito infeliz nesse período de pandemia, é como se eu estivesse jogando dois anos da minha vida no lixo, sem crescer, sem fazer coisas que eu gosto, então o francês me faz sentir como se pelo menos eu estivesse fazendo algo por mim mesma, como se não estivesse desperdiçando totalmente o tempo, mesmo que eu não vá usar muito ao longo da vida. É um consolo saber: bom, fiquei 2 anos estagnada, mas pelo menos aprendi francês. No fundo é meio terapêutico também e ajuda muito a ocupar o tempo.

Ainda é cedo para falar, mas eu super curto o humor francês. Assisto as vezes uns vídeos do Cyprien (um youtuber famoso da França) e acho muito engraçado, mesmo sem entender 100%. Não tentei ainda stand-up em francês, mas quero tentar. 

Me senti vitoriosa quando li faz poucos dias Le Petit Prince (O pequeno príncipe) em francês! Foi tão legal finalmente conseguir ler e compreender. É minha terceira leitura desse livro na verdade (duas primeiras em português, claro) e dessa vez percebi várias coisas novas e fiz novas interpretações também. É tão legal saber que de agora em diante poderei sempre relê-lo na versão original que é tão linda. J’ai réussi a lire Le Petit Prince !

Finalmente estou começando a conseguir pensar em francês também o que é a melhor parte, é quando finalmente começamos a nos sentir confortáveis com um idioma novo. Estou confundindo muito menos com o inglês (bem no início dava um nó na cabeça, queria pensar em francês e saía em inglês). 

Enfim, o francês talvez esteja sendo a única coisa que esteja me ajudando a passar pela pandemia e o confinamento, então sou muito grata por amar aprender e por conseguir me interessar por coisas novas neste período tão difícil da vida.


Fonte da imagem: Paris França Ponte - Foto gratuita no Pixabay

sábado, 17 de julho de 2021

Divagações aleatórias durante a pandemia

 

1. De um modo geral eu não estou feliz. Muitas vezes parece que eu simplesmente visto uma máscara e represento uma personagem quando tenho que interagir com outras pessoas. Preferiria não ter que vestir essa máscara.


2. Absolutamente zero respeito pelas pessoas que não respeitam a pandemia. Que andam por aí sem máscara, que fazem aglomerações, que frequentam lugares desnecessários, que estão vivendo a vida como se não existisse pandemia e o pior de tudo, ainda acreditam ou fingem que respeitam a pandemia e as medidas adequadas de distanciamento. Eu estou me sacrificando bastante para me manter em casa, então, estou também absolutamente com nojo das pessoas que não fazem o mesmo.


3. Eu já gostei de manter contato a distância através do whatsapp e semelhantes. Ainda sou do tempo do MSN e adorava o sonzinho de uma notificação... Atualmente, com essa vida insólita de pandemia eu queria poder ficar uma semana desconectada do whatsapp. Não posso porque utilizo para o trabalho. Zero paciência para responder mensagens, para pedir notícias, para manter qualquer tipo de contato por whatsapp. Me reduzi ao mínimo necessário, não consigo mais, não tenho criatividade e nem vontade para manter conversas assim, não quero ficar me cobrando para responder em um prazo aceitável. Simplesmente não é a vida real. Não é como encontrar uma pessoa pessoalmente (coisa que evito ao máximo exatamente por estar respeitando a pandemia), não chega nem perto de uma interação real. Então, tenho refletido o quanto não gosto dessa vida virtual, o quanto acho desgastante e chato e pensar que um dia já achei cheia de possibilidades. A lição que levo para depois da pandemia? Se não puder marcar um encontro real, longe de qualquer tela, ainda que esporadicamente, não quero manter na minha vida.


4. Puxando um gancho da observação anterior: meio sem paciência para pessoas de um modo geral. Está certo que não tenho tido quase nenhuma interação real há mais de um ano, mas acho que me acostumei dessa maneira. Ok, vai ser legal após a pandemia não precisar ter medo de encontrar outras pessoas, poder viajar e frequentar lugares cheios, mas acho que minha tolerância para lidar com outros seres humanos vai continuar sendo menor. É tão mais fácil. Talvez porque a pandemia tenha revelado o quanto muitas pessoas são egoístas (vide item 2 dessa lista).  


5. Às vezes parece que a única parte boa do dia é me sentar para tomar uma xícara de capuccino depois do almoço. Não bebo café preto então o capuccino com leite é minha escolha. É como se fosse uma pequena indulgência, e é assim que eu me sinto.


6. Às vezes final de semana são tipo 17 horas e eu já estou fazendo as contas de quantas horas faltam para finalmente voltar para cama.


7. Às vezes é muito difícil sentir vontade de sair da cama para começo de conversa. Quando eu saio da cama eu tenho que vestir a máscara e seguir em frente e fazer as coisas que eu não tenho vontade de fazer. 


8. É tão horrível ter que vestir a máscara ao sentar na frente do computador para trabalhar em algo que eu detesto. É como estar me destruindo um pouco por dentro. E o tempo não está atenuando isso, ao contrário, só torna o fardo mais difícil de carregar.


9. Pior do que vestir a máscara é simplesmente estar perdida na vida, sem ter a menor ideia de qual caminho seguir. É como estar empurrando as coisas com a barriga, deixando o barco correr sozinho, esperando que algo aconteça para mudar o curso dos acontecimentos. Só que não vai acontecer nada se eu não tomar nenhuma atitude e eu não sei que atitude tomar.


10. Acho que é normal querer mudar de profissão, de emprego, fazer outras coisas, seguir outros caminhos. A vida é feita dessas mudanças também. Acho incrível para falar a verdade. Adoro ler histórias de pessoas que se reinventaram. Só que é tão horrível quando não se tem a mínima ideia do que fazer e nem como mudar uma situação em que não se quer estar. Durante a pandemia não é como se eu simplesmente pudesse “largar tudo” e ir embora porque simplesmente não há lugar para ir quando se vive em uma pandemia. E mesmo que não existisse pandemia, não sei se andar sem rumo pelo mundo me faria descobrir um caminho - qualquer caminho - para seguir. Seria divertido, emocionante e enriquecedor, mas não sei se me faria ter algum propósito.


11. Será que é errado pensar apenas em ler e viajar? Quando eu tenho ânimo suficiente, as únicas coisas que eu quero pensar e fazer na vida são viajar e ler bons livros. Aprender coisas novas de vez em quando também (tipo idiomas). Não existe mais nada. Claro, eu gostaria de ser uma pessoa melhor também e acho que livros e viagens são um bom caminho e ajudam muito a tornar as pessoas melhores. É só isso. Não existe mais nada que eu queira fazer da vida. 


12. Como eu posso amar tanto, mas tanto aprender, estudar e descobrir coisas novas e odiar tanto, mas tanto ensinar? A maior contradição da minha vida talvez.


13. É bem solitário estar triste. Descobri que pelo jeito não tenho amigos. 


14. Meu sono está completamente desregulado na pandemia. Tem épocas em que durmo muito cedo, épocas em que durmo tarde, épocas em que acordo cedo, épocas em que acordo tarde, épocas em que perco o sono e passo parte da noite revirando na cama sendo atormentada pelos meus pensamentos pessimistas. Por falar em pensamentos, eu convivia muitíssimo melhor com os meus antes da pandemia, agora geralmente eu acabo me atormentando imaginando situações irreais que só me machucam.