segunda-feira, 25 de março de 2019

Por que eu acredito que enriquecer é uma questão de escolha?



“Enriquecer é uma questão de escolha” é uma máxima sempre utilizada pelo Gustavo Cerbasi (autor de diversos livros sobre finanças pessoais dentre eles “Casais inteligentes enriquecem juntos”) com a qual eu concordo em gênero, número e grau. Admiro muito o Gustavo Cerbasi e acho as reflexões que ele faz nos livros e nos vídeos no youtube muito ponderadas, razoáveis e assertivas, prezando pela simplicidade. Repito essa frase dele para mim mesma e para todos que conheço e acredito firmemente na mesma. No entanto, vejo incredulidade nas pessoas que me ouvem repetí-la e não compreendo, pois para mim, apesar de sábia, é uma afirmação óbvia.

Resolvi me dar ao trabalho de ponderar sobre os motivos que me fazem crer na veracidade de tal afirmação. Talvez uma tentativa de, com o desconforto gerado pela minha reflexão, fazer outras pessoas enxergarem também. Vamos lá então enumerar esses motivos:

Você escolhe ser pobre ao invés de rico quando faz escolhas de consumo impensadas ou ruins. Aquela compra por impulso. O presente comprado de última hora sem pesquisa de preços. A blusinha desnecessária na vitrine da loja por um preço irresistível. Mais um batom para se juntar à todos que você já tem e quase nem usa. O chocolate adquirido no bar próximo ao trabalho no meio da tarde, muito mais caro que o do supermercado. Etc.

Você escolhe ser pobre ao invés de rico quando prefere conforto desnecessário em diversas situações. Pegar um uber em dia de chuva. Percorrer de carro um trajeto que poderia ser feito de bicicleta. Um banho mais longo do que o necessário. A manicure que poderia ser feita em casa.

Você escolhe ser pobre ao invés de rico quando tem preguiça de controlar os gastos. O pensamento de que é muito chato anotar e revisar os gastos diários e mensais na busca por itens que não fazem sentido e poderiam ser cortados.

Você escolhe ser pobre ao invés de rico quando tem vergonha de pechinchar e quando não busca alternativas mais baratas. Aquela recusa em sair do banco que cobra uma cesta de serviços absurdos que você nem usa. A preguiça em negociar - e talvez se estressar um pouco - as tarifas de serviços. Trocar o supermercado por um mais barato. A resistência em substituir o cartão de crédito por outro sem anuidade ou com anuidade mais baixa.

Você escolhe ser pobre ao invés de rico quando não paga a fatura integral do cartão de crédito. Nem preciso falar dos juros altíssimos dos cartões de crédito, pauta sempre constante em noticiários de economia. A propósito, o que são mesmo todas aquelas parcelas e pequenos valores que somados representam a conta total? Você lembra?

Você escolhe ser pobre ao invés de rico quando paga por serviços que não utiliza. Seja a academia, o plano do Spotify ou o jornal que se acumula em casa sem ser lido.

Você escolhe ser pobre ao invés de rico quando precisa comprar algo porque teve um dia difícil ou mesmo porque está muito feliz já que tudo deu certo. Será que não tem uma forma gratuita de se recompensar em momentos de felicidade ou de tristeza? Será que a companhia de alguém que se gosta, um tempo ao ar livre ou mesmo uma atividade relaxante em casa não podem ser uma compensação mais plena e que ainda gerará memórias muito melhores e mais duradouras do que uma mera compra que você nem lembrará daqui um mês?

Você escolhe ser pobre ao invés de rico quando reclama do salário, mas não faz nada para ter uma renda extra. O eterno o que você está fazendo no seu período livre? Esse tempo está sendo bem empregado? Você está buscando meios de ganhar mais dinheiro, se não agora, pelo menos no futuro?  Reclamar não vai levar a nada, é preciso se mexer para fazer algo por si mesmo, pois ninguém mais fará. Infelizmente, vivemos em um país desigual, temos sérios problemas econômicos e sociais que não se resolverão da noite para o dia. É preciso que cada um faça um esforço individual e busque melhores alternativas para si.

Você escolhe ser pobre ao invés derico quando não sabe dizer não. Seja para o convite para um restaurante cuja conta você não pode arcar, seja para o vendedor insistente. Não é feio dizer que não tem dinheiro, que se está economizando para atingir outro objetivo ou que não se pode/quer gastar tanto seja para amigos e familiares, seja para vendedores. O feio é gastar um dinheiro que você não possui e que fará falta ou que poderia ter um uso melhor somente porque é o socialmente esperado. Se você se sente desconfortável dizendo não, pense no desconforto de ver seu dinheiro ganho com esforço indo pelo ralo em algo que não faz pleno sentido para você.

Você escolhe ser pobre ao invés de rico quando pretende ser alguém que você não é. A eterna frase de que consumismo é comprar coisas que você não precisa, com o dinheiro que você não tem, para impressionar pessoas que você não conhece, fingindo ser uma pessoa que você não é.

Você escolhe ser pobre ao invés de rico quando não vive um degrau - ou mais de um - abaixo do que a sua renda permite. É muito fácil subir os degraus quando nos deparamos com um aumento de renda. No entanto, descer um degrau em um momento de aperto será muito mais difícil. Simplicidade é tudo.

Você escolhe ser pobre ao invés de rico quando espera ganhar determinado valor para começar a investir. Investimento é questão de disciplina, não de nível de renda. Quem não aprende a fazer sobrar e investir com qualquer renda, não vai investir nunca.

Você escolhe ser pobre ao invés de rico quando tem preguiça de se educar financeiramente. Acha chato estudar sobre finanças pessoais e investimentos porque acha que é difícil, porque acha que precisa ser bom em matemática, porque ninguém nunca ensinou, porque tem medo de sair da zona de conforto. A pergunta que fica é: você já tentou?

Você escolhe ser pobre ao invés de rico quando poupa o que sobra depois de gastar ao invés de gastar o que sobra depois de poupar. Percebe a sutil diferença? Ter metas claras de poupança mensal fazem toda a diferença.

Você escolhe ser pobre ao invés de rico quando, ao se deparar com uma compra em potencial, não se pergunta “eu quero?”, “eu preciso?” e “eu posso?”. Caso se perguntasse e fosse sincero ao responder, ao chegar no preciso e posso, provavelmente desistiria da compra.

Não estou dizendo que todos os exemplos que drenam partes do nosso dinheiro que apresentei acima devem ser banidos em definitivo das nossas vidas. Somente digo que as nossas decisões de consumo precisam ser decisões de consumo ponderadas, tomadas racionalmente, com base em escolhas que nos tragam benefícios reais pelo que estamos pagando. Temos que dar valor a cada centavo que ganhamos. Saber que cada real que gastamos com algo representa não apenas aquele produto ou serviço que desejamos ter, mas representa também - e principalmente - algo do qual abrimos mão, seja porque estamos deixando de adquirir algum outro bem, seja porque estamos “menos ricos”. Tudo bem gastar o nosso dinheiro, que trabalhamos duro para ganhar, com algo que nos faz feliz. O problema surge quando não temos consciência da magnitude que aquele gasto ou aquela decisão representa na nossa vida, o que estamos abrindo mão a partir dela e qual o impacto que ela pode ter.

Fonte da imagem: https://pixabay.com/pt/photos/dinheiro-moeda-investimento-2724241/