Tenho muitas histórias para contar. Dos livros que li, dos lugares por onde passei, das coisas que aprendi... Mas tem uma história que eu nunca tive. Admiro muito as pessoas que dizem tê-la e queria saber se são realmente verdadeiras.
Sabe aquele momento da vida em que você percebe que está em uma encruzilhada e de repente tem uma espécie de inspiração, escuta uma voz interior ou tem uma intuição sobre o que fazer? São muitos os nomes: inspiração, luz no fim do túnel, voz interior, premonição, intuição, instinto, e por aí vai. Não importa o nome que se dê, é um sentimento misterioso que surge, uma vozinha que lá nos fundo nos diz sobre como proceder. Pois é. Nunca tive isso. Nunca senti nada nem remotamente parecido.
Nas poucas decisões realmente decisivas da minha vida (com o perdão do trocadilho) não tive nenhum sentimento ou emoção especial que me indicasse o caminho a seguir. As decisões sempre foram tomadas pura e simplesmente usando a razão. O que é mais lógico, inteligente ou óbvio fazer? Pá. Decisão tomada. Acho que no fim das contas sempre foram resoluções acertadas. Não que se pudesse voltar no tempo e fazer diferente eu não mudaria nadica de nada. Só acho que foram as decisões mais corretas possíveis diante da situação e com a informação e maturidade que eu tinha. De novo, foram as decisões mais racionais. Uma lógica matemática não seria mais precisa que isso. Aliás, parando agora para pensar, sempre foi tudo muito bem calculado, cenários construídos, tentativas de prever os erros e problemas do futuro, tudo friamente calculado como diria o Chapolin. Nenhum calor, nenhum ímpeto, nenhuma emoção, nenhum movimento não premeditado. Não que eu seja calculista o tempo todo. Quem já me viu brava por exemplo sabe o quanto eu falo coisas sem pensar, o quanto sou emotiva e impetuosa. Na hora de dar passos importantes no entanto, entra em ação a cautela e a premeditação.
E sinto uma falta absurda de ouvir “minha voz interior”. Ah como eu queria uma sábia voz conselheira me dizendo o que fazer sem eu precisar exaustivamente ser racional. Porque ser racional é mentalmente cansativo. Ás vezes tudo o que eu queria era uma dose de determinação sem necessidade de ponderar tanto, sem tanto desgaste. É como se não existissem mais neurônios suficientes para tanto cálculo mental e eu clamasse por um auxílio.
Fico me perguntando se ao invés de racionalizar tudo, de seguir o caminho lógico, não deveríamos tomar as rédeas da própria vida e fazer o que desse na veneta seguindo o primeiro pensamento (porque afinal, talvez seja esse primeiro pensamento a tal inspiração) e depois lidar da melhor maneira possível com as consequências sejam quais fossem. Não sei. Não consigo me decidir. Não tenho nenhuma intuição de que isso seja o ideal e racionalmente acho que não é uma boa ideia.
Tenho somente uma teoria para explicar minha completa ausência de voz interior. É que ainda não vivenciei nenhuma situação realmente crucial na minha vida em que uma voz interior se fizesse necessária. Pretensiosa e sem graça eu sei. Poxa, todo esse tempo e ainda não chegou nenhum momento capital? Faz tudo parecer tão pequeno. É meu único consolo entretanto e com ele sigo em frente, esperando que um dia conseguirei ouvir essa vozinha conselheira.
Também possuo a mesma forma de funcionamento: racional.
ResponderExcluirAgora, complicado falar em intuição porque... ainda que surgisse esta voz interior, ela seria rapidamente posta sob um escrutínio racional. Neste sentido, esta "intuição", se analisada como algo positivo, seria interpretada como uma "grande sacada" e não como intuição.
Eu não "seguiria" minhas intuições sem analisá-las racionalmente... se já tive intuições, as reduzi como meras "idéias" na minha cabeça e as deixei de lado provavelmente.
Seguir intuições como um ato de pura fé pode ser bonito, romântico, criativo, mas requer muita coragem para "fazer coisas sem sentido".