quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Sobre a solidão




Tenho refletido a respeito da solidão e as formas de lidar com ela. Me parece que as pessoas de um modo geral estão pouco acostumadas a aceitar a solidão. Penso que é uma lição importante para a vida, pois evita problemas e desilusões e torna a velhice mais fácil.
Lembro bem que minha avó, mãe da minha mãe, agora já falecida, quando ficou viúva, não admitia de modo algum ficar sozinha em casa. Dormir sozinha então, nem se discutia. Levou anos até que ela finalmente conseguisse se acostumar a dormir sem a presença de outra pessoa. Nesse meio tempo, bastante transtorno causou para familiares e para ela mesma. Isso porque ela jamais havia dormido sem alguém da família sob o mesmo teto. Me parece absurdo, mas percebo que não é tão incomum pessoas adultas que nunca dormiram sozinhas. Sou grata por, ao menos, já ter me acostumado há muito tempo a dormir sozinha em casa.
Como a minha avó deveria ter aprendido antes, acho importante acostumar-se a estar só. Porque, no fim das contas, a única companhia que estará sempre presente é a nossa própria. É a única companhia que temos certeza de que teremos para sempre. Não adianta ter dez filhos, muitos amigos, uma família enorme, um marido dedicado, não há nenhuma garantia que qualquer uma dessas pessoas estará lá sempre. Ninguém sabe o que nos reserva o futuro. Então, nada melhor do que se preparar para enfrentar situações sozinho, ganhar independência. É um tipo de liberdade. Gosto por exemplo de ficar sozinha em casa e ter que cuidar de mim mesma. Viajar sozinha também me ensinou muito sobre isso (como escrevi aqui). Me ensinou que posso ir a qualquer lugar sozinha, que posso fazer qualquer coisa.
Aprender a se virar e a fazer as coisas sozinho é importante, mas o desafio mesmo é aprender a conviver consigo mesmo. Não apenas se virar sozinho e fazer o que precisa ser feito, mas fazer amizade com os próprios pensamentos. Sabe, aqueles pensamentos mais profundos que não conseguimos calar com música alta, com a tv ligada e nem mesmo com a companhia de outra pessoa. Aqueles que nos acompanham dia e noite, que fazem parte de nós e que não conseguimos controlar e que podemos até esconder de outras pessoas, mas não conseguimos esconder de nós mesmos. Chamo isso de aceitar quem somos. E acho que a melhor maneira de fazer isso é ouvindo nossa voz interior quando estamos sozinhos. E é desafiante lidar consigo mesmo, talvez até mais do que meramente aprender a se virar sozinho.
Aí que a aventura começa. Curtir o tempo de ócio consigo mesmo, aprendendo mais sobre si, escutando os pensamentos que não calam. Aceitar a solidão quando ela vem. 
Estar completamente só nesse mundo hiperconectado é difícil. Uma conversa com um amigo distante ou mesmo com um desconhecido está a alguns cliques de distância. Mesmo assim acho importante me conectar comigo mesma em um nível mais profundo. Curtir um tempo de folga apenas com meus próprios pensamentos, aprendendo mais sobre mim mesma. Desacelerar. Viver aquele dolce far niente com intenção.
Como muitas coisas na vida, é um pouco questão de prática. Por que não tentar de vez em quando?

Nenhum comentário:

Postar um comentário