Viagens. Desde criança sabia que queria viajar. Agora, olhando em retrospecto, percebo que já visitei alguns lugares com que sempre sonhei e alguns outros que eu nem imaginava que colocaria meus pés. E sonho com tantos outros, especialmente com aqueles que têm maior potencial de me ensinar algo. Porque para mim, viajar é isso, é aprender. Aprender com um mundo novo, diferente, com outra forma de viver, com o passado e com a observação. E se sentir grato. Grato pelos lugares que se está tendo a oportunidade de ver com os próprios olhos e por ter consciência suficiente para compreender o quão maravilhosa e especial é essa oportunidade.
Nas minhas andanças pelo mundo, aprendi e observei algumas coisas que me fizeram mudar alguns conceitos. Sobre isso que quero escrever hoje.
Hostel como estilo de vida. Sem dúvida um ponto polêmico. Acho tão engraçado o estranhamento em muitas pessoas quando digo que sempre me hospedo em hostel! As pessoas, especialmente brasileiros, acham muito estranho ter que dividir quarto e banheiro com estranhos. Eu não vejo problema, até me divirto dizendo que já fiquei em quarto com quatorze camas! É uma maneira barata para se hospedar, especialmente viajando sozinho (e não, Airbnb não é mais barato para um viajante sozinho e algumas vezes nem mesmo para duplas). Eu já fiquei em muitos hostels, alguns melhores e mais limpos, alguns um pouco piores, a grande maioria com excelente localização, nunca fui roubada, nunca passei por nenhum problema grave. Muitos hostels são tão divertidos, tem bares dentro do próprio hostel, o que é muito conveniente quando se está só, e excelentes áreas comuns com bons sofás e decorações bonitas. O principal objetivo de optar por um hostel é sim economizar claro, mas não me imagino mais em outra forma de hospedagem, pois eu realmente gosto do estilo. E acho minimalista de certo modo. Tudo o que precisamos depois de um longo dia é uma cama, não de um quarto inteiro só para si. Tem que se adaptar, esquecer o nojinho de utilizar um banheiro comum (na Europa, muitos hostels tem banheiros dentro do próprio quarto, em outros lugares pelo que observo, o mais comum são banheiros no corredor), mas é tão divertido essas desconstruções, abrir mão do que não é essencial quando se está viajando. E sim, geram histórias. Tenho algumas histórias dos hostels por onde passei.
Apreciar museus. Uma das minhas primeiras experiências realmente marcantes em museus foi no MASP, o museu de arte de São Paulo. Lá está o meu quadro favorito na vida: Criança Morte do Portinari. Passei muito tempo admirando esse quadro que para mim é absolutamente perfeito. Nunca esqueci dessa sensação e passei a valorizar bastante a possibilidade de visitar museus. É uma das primeiras coisas que vejo quando estou planejando uma viagem: quais museus eu quero visitar. Muito grata por ter visitado alguns.
Compreender a solidão. Ela não é necessariamente ruim ou triste. É apenas parte da vida. Passei a entender melhor a necessidade de conviver comigo mesma, aceitar minha própria companhia como a única que de fato estará sempre presente. Tenho certeza de que muitas aventuras, muitas histórias e muitos aprendizados virão. E eu vou respeitar muito mais e aproveitar muito mais se estiver sozinha para vivenciá-los. Lembro de caminhar pelas ruas explorando uma cidade nova e observando o lugar e os ruídos especialmente feliz por estar sozinha, com meus sentidos atentos à experiência única e me sentindo leve por estar só, apenas comigo mesma. É uma sensação difícil de descrever - gostaria que tivesse um nome - mas dá uma consciência incrível sobre o próprio ser, seu espaço no mundo e o lugar em que se está.
Ainda, uma das melhores experiências da minha vida foi visitar Pompéia, a cidade devastada pela erupção do Vesúvio em 79 d.C na Itália. Era um dia lindo de inverno com sol e um céu azul maravilhoso. Percorri por horas as ruínas, aproveitando as explicações do valioso áudio guia, no meu ritmo, tirando fotos, apreciando cada passo, maravilhada e feliz. Havia muitos outros turistas no local, mas eu estava sozinha e foi maravilhoso me concentrar inteiramente naquele momento impar da vida. Me senti muito grata esse dia, pois lembrava perfeitamente da primeira vez que li, em um livro de ciências da escola, sobre Pompéia e o Vesúvio e ali estava eu, percorrendo o lugar com meus próprios pés. Até hoje quando me lembro dos meus passos, das ruas que percorri, do céu nesse dia, do silêncio, meu coração vibra.
Se apaixonar por desertos. Sou fascinada por desertos. O pequeno príncipe estava absolutamente certo quando disse: “Eu sempre amei o deserto. A gente senta numa duna de areia. Não se vê nada. Não se ouve nada. E no silêncio alguma coisa irradia.” É a definição perfeita. Meu lugar favorito no mundo, seja que deserto for. É o céu mais maravilhoso que se pode ver, seja de dia ou a noite e o silêncio, a quietude, a sensação de infinito, é incrível. Acho que viajando descobrimos estas paixões desconhecidas.
Se aventurar sem medo. Exceto por países em guerra, conflitos ou situações realmente críticas, agora creio que é possível ir para qualquer lugar sozinho com algum planejamento. Nada é impossível, tudo dá para aprender. Mesmo aquelas cidades enormes, mesmo países com idiomas muito diferentes, mesmo se o transporte público for muito complexo, mesmo se for um lugar mais isolado, é possível pesquisar o suficiente para se virar. Costumo brincar que onde quer que se pretenda ir, algum brasileiro já foi antes e já escreveu a respeito na internet! Há muita informação disponível, muitas dicas, sobre o melhor período para ir, os melhores lugares para visitar, o que e onde comer, como usar o transporte, como chegar, como sair, onde se hospedar. Basta ter discernimento para escolher o que vale a pena, o que está de acordo com o que se gosta e se quer, enfim, fazer uma leitura crítica da imensa variedade de informação disponível e separar o que é útil. Alguns lugares podem exigir um pouco mais de coragem claro, acho que começar por destinos mais fáceis é sim uma boa estratégia, mas a viagem dos sonhos sempre é possível.
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