quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Algumas perguntas sobre o que queremos



Vou contar uma história que aconteceu comigo há muito tempo. Apesar dos anos decorridos, ainda lembro porque uma simples frase ainda me faz refletir.
Eu estava em um ônibus viajando de volta para casa e falava ao celular com a minha mãe (tempo pré whatsapp). Eu havia passado os dias anteriores com meu namorado da época e com alguns amigos dele e contava como tinha sido. Não lembro exatamente o que eu contava, mas acho que tinha algo a ver com eu me sentir muito deslocada em meio aos muitos amigos do dito namorado: eu não sentia que compartilhava nada com eles, nem experiências, nem gostos, nem história de vida, nem faixa etária, não tinha nenhuma afinidade e não me sentia à vontade nas interações sociais com aquelas pessoas. Naquela época, eu era do tipo de pessoa que quando não vai muito com a cara de alguém, não faz muita questão de esconder - confesso que ainda sou assim, mas aprendi muito mais sobre tolerância e empatia nos últimos anos. Minha mãe me aconselhava dizendo que eu deveria ser mais paciente com as pessoas, especialmente com os amigos do meu namorado, afinal de contas, nas palavras dela: “talvez seja com essas pessoas que tu tenha que conviver pelo resto da tua vida”.
“Talvez seja com essas pessoas que tu tenha que conviver pelo resto da tua vida”.
Eu fiquei chocada. Horrorizada. Um nó na garganta, parecia que ia sufocar. Não queria acreditar no prognóstico que minha própria mãe estava traçando para mim.
Pára tudo! Como assim? Não é com essas pessoas que eu quero ter de conviver pelo resto da minha vida! Não é com essas pessoas que eu quero compartilhar quaisquer momentos que sejam! Seria um peso muito grande para mim. O resto da vida parecia um tempo muito grande para despender convivendo (ainda que fosse de tempos em tempos) com pessoas que eu não sentia afinidade e simplesmente não queria conviver.
Bom, o namoro terminou algum tempo depois e nunca mais vi nenhuma daquelas pessoas. Creio que tenha sido um alívio. Outros namoros e a convivência com outras pessoas vieram e a vida seguiu seu curso.
Até hoje, entretanto, aquela frase da minha mãe ecoa em mim. A vida é feita de escolhas, nem todas realizadas por nós mesmos, mas não me parece sensato escolher - deliberadamente - conviver com pessoas com quem não nos sentimos à vontade e não temos afinidade.
Ao nos relacionarmos com alguém, inevitavelmente estamos “adquirindo” um pacote de histórias, coisas, amigos e familiares que vêm com aquela pessoa. Gostamos do pacote? Ótimo! Não gostamos ou não nos encaixamos nele? Talvez seja uma boa ideia repensar se nosso lugar é ali mesmo. Mesmo quando a convivência com os membros do dito pacote é esporádica, ela talvez seja pesada demais para suportar. Além disso, a vida é cheia de surpresas e não sabemos se em algum momento, por mais improvável que pareça no presente, uma grande peça não nos será pregada nos obrigando a uma situação que não gostaríamos de vivenciar.
Agora sempre me pergunto se eu quero conviver com as pessoas que cercam as pessoas que escolhi para ter na minha vida. Não se escolhe apenas uma pessoa, pois ela nunca vem sozinha, sem passado, sem história. Se escolhe um “combo” completo. Tive posteriormente ótimas experiências nesse sentido que me fizeram aprender ainda mais e ter mais convicção do quanto isso tudo é importante.
Sejamos justos. Aqueles amigos do ex-namorado com quem eu não tinha afinidade, nunca me trataram mal, nunca me fizeram ou disseram nada, sempre me aceitaram numa boa. Eu é que sentia total falta de sintonia e isso já era o suficiente naquele caso. Todavia, acho que também tem o outro lado: o ser aceito. Outra pergunta importante: sou verdadeiramente aceito(a) aqui? Minha presença é desejada ou apenas tolerada? Já somos obrigados a engolir tantos “sapos” na vida. Será que queremos estar em um lugar com pessoas que apenas nos toleram, mas que não desejam a nossa presença sinceramente? Eu acho que essa é uma escolha burra, o mundo é tão grande, tem tantos lugares, pessoas e situações com incríveis oportunidades para nos fazer feliz. Por que então escolher ser tolerado ao invés de querido?
Acho que no fim das contas esse texto é apenas eu, novamente, pregando o desapego de pessoas e situações que não nos fazem totalmente bem. Não estou dizendo para descartar qualquer pessoa de quem gostamos somente porque a família ou os amigos não nos aceitam muito bem ou porque não vamos muito com a cara deles. Estou apenas fazendo um convite à reflexão se é isso que queremos “para o resto das nossas vidas” ou ao menos por qualquer tempo longo o suficiente para parecer o resto da vida.

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