segunda-feira, 27 de abril de 2020

Mudanças da vida



Recentemente minha vida sofreu uma reviravolta. Fui demitida após seis anos na empresa em que eu trabalhava. Com a demissão, minha vida sofreu uma reviravolta, ainda maior por conta da pandemia do corona vírus. Resolvi entregar o apartamento para o qual havia me mudado há apenas 7 meses. Eu gosto muito desse apartamento e acho que fui muito feliz e amadureci muito nesse curto período em que morei sozinha. Estou vendendo muitas coisas, desapegando de muitas coisas, me esforçando também para desapegar da vida que eu tinha e que nunca mais será a mesma, da cidade da qual eu gostava, da rotina com a qual estava acostumada, tentando simplificar o que é possível e me acostumando com o período de incertezas, de mudanças e muito em breve, de vida nômade.
Mudanças são edificantes. Não as temo de maneira nenhuma. Sei que a vida sempre reserva boas coisas para nós e reviravoltas são oportunidades de crescimento. Estou ansiosa com o que está por vir e tenho aprendido algumas coisas nesse processo de desapegar de bens materiais e mudar a vida. Claro que é difícil deixar ir coisas das quais gostamos, mas a certeza de que a vida está sempre certa e a perspectiva de novas experiências torna essa pequena dor mais fácil de superar.
Percebi o quanto é verdadeiro algo que havia lido uma vez: um dia você faz algo pela última vez e somente algum tempo depois vai perceber que aquela foi a última vez. Isso às vezes deixa um gosto amargo e está sendo a parte mais difícil de lidar nesse processo. Aceitar que algumas coisas se foram e não existirão mais do mesmo jeito é um processo que exige tempo e maturidade. Aceitar que não se poderá mais fazer algo é bem duro. Por outro lado, fico pensando o que mudaria se eu soubesse que a última vez é a última vez. Acho que a consciência de saber que é algo que não se repetirá, apesar de permitir maior consciência de cada detalhe e do tempo e espaço a nossa volta, iria tornar a experiência mais triste. Talvez seja melhor assim.
Outra lição é que nenhum bem material nos pertence realmente. Aliás, nada nos pertence realmente. Tudo é um empréstimo da vida que utilizamos enquanto nos é útil e quando não é mais necessário, devemos deixar ir. Vale para objetos, lugares e vivências. Deixar de encarar algo como sendo “meu” e passar a encarar tudo apenas como um empréstimo da vida muda nossa perspectiva. Torna mais fácil desapegar, pois as coisas não são nossas, apenas as utilizamos pelo tempo que a vida nos permite. É como pegar algo emprestado e devolver depois de usar. Acontece que como algumas coisas ficam conosco por tanto tempo ou como gostamos demais de algumas delas, acabamos nos esquecendo que não nos pertencem e queremos permanecer com elas por mais tempo do que o necessário.
Isso também acontece com empregos, com casas, com lugares que frequentamos, com cidades que escolhemos para morar, com a rotina que seguimos: tudo são ferramentas para nossa evolução, para nos ensinar algo e quando não são mais úteis ou necessárias, temos que dizer tchau e partir para novas experiências. O melhor mesmo é tentar entender o que aprendemos com tudo isso que passou por nós, que fez parte da nossa vida e agradecer pelas vivências que nos fizeram feliz, ainda que tenham sido mais curtas do que gostaríamos.
Não vale a pena se apegar, é uma energia gasta inutilmente, pois caso seja necessário, a vida tratará de nos fazer seguir em frente de um jeito ou de outro. O apego serve apenas para nos atrasar, para nos maltratar nos impedindo de viver outras histórias que talvez nos façam até mais feliz. É duro, é difícil, até mesmo para mim usualmente tão desapegada. Acho que no fundo é principalmente o medo da incerteza. É preciso ter bastante fé para confiar que o que vem pela frente será ainda melhor do que uma vivência da qual gostamos. Como diz uma canção do Green Day, uma das minhas bandas favoritas: “It's something unpredictable, but in the end it's right”.

Fonte da imagem:  https://pixabay.com/pt/photos/mudan%C3%A7a-conselho-porta-novo-come%C3%A7o-4056014/

2 comentários:

  1. Olá Adriana, tudo bem?

    Encontrei o link do seu blog ao ler os comentários do site Valores Reais no tópico "Reflexões de uma quarentena". Parei pra ler o primeiro artigo que apareceu ao abrir o blog e me identifiquei com o texto.

    Eu passei algo muito próximo do que aconteceu com você em relação ao emprego e compartilho de alguns pensamentos contigo.

    Trabalhei por 3 anos e alguns meses em um empresa maravilhosa. Um ótimo ambiente de trabalho e os colegas eram como uma família. A empresa estava em uma ascendente e as perspectivas de crescimento nos motivava, mas eis que a pandemia chegou e tudo parou, consequemente houve cortes na empresa e junto com demais colegas e fui demitido.

    Meu primeiro sentimento foi uma sensação estranha. Não foi raiva e nem tristeza. Eu pensei nas pessoas que não teria mais no meu dia a dia e foi a parte que mais me deixou pensativo. Fiz um texto de despedida para eles e passado um ou dois dias refletindo eu já me sentia muito empolgado com as possibilidades e oportunidades que estariam por vir! Uma porta se fechou para tantas outras poderem se abrir.

    Após mais alguns dias refletindo, eu percebi que estava muito acomodado na minha antiga rotina e tinha parado de evoluir e se essa demissão não tivesse acontecido, dificilmente eu teria me ligado nisso. De forma constante eu tenho feito uma reflexão profunda e identifiquei muita coisa que preciso melhorar e isso me animou a voltar a estudar e me dedicar para evoluir no campo profissional e pessoal.

    Essa pandemia já está deixando marcas bem profundas de dor em muitas pessoas e com certeza tudo o que está acontecendo ficará para a história.
    Mas a minha história eu quero ter outras lembranças. Lá na frente eu tenho certeza que vou olhar pra trás e ver que esse ponto de mudança foi crucial para que eu pudesse alterar a rota para um patamar mais elevado. Hoje talvez tudo ainda esteja nebuloso, mas o tempo é mestre em mostrar tudo com mais clareza.

    Bem, é isso. Gostaria de te desejar muito foco e disciplina na sua jornada e tenho certeza que você também colherá ótimos frutos!

    ResponderExcluir
  2. Olá Fellipe, muito obrigada pelo seu comentário e por compartilhar sua experiência aqui. Eu gosto muito de ouvir/ler sobre as histórias de vida e ideias das outras pessoas também, acho que podemos aprender muito com as experiências dos outros de certa forma.
    Infelizmente parece que muita gente está perdendo o emprego nesses dias. :(
    Eu infelizmente ainda não consegui me disciplinar para estudar e aprender coisas novas mesmo estando fazendo um curso de pós. Parece que o isolamento está me fazendo procrastinar mais do que o habitual.
    Com toda certeza alguns acontecimentos da nossa vida embora pareçam um pouco dolorosos, depois se mostram o melhor caminho que a vida poderia ter tomado. Como diz uma frase do Tolstói em Guerra e Paz que até coloquei em outro texto: "Achamos que quando nos arrancam de nossas trilhas rotineiras tudo está perdido; mas é só então que começa algo novo e bom”.

    ResponderExcluir