domingo, 13 de outubro de 2019

Sobre se libertar das frustrações




Eu sou apaixonada por São Paulo. Grandes cidades de um modo geral me fascinam: é um mundo de possibilidades ao alcance das mãos, gosto do anonimato das multidões, das luzes e do estilo de vida corrido. No fundo, no fundo, me frustrava um pouco a ideia de nunca ter morado em São Paulo ou outra grande cidade do Brasil ou do mundo. Não que fosse uma mágoa profunda, mas me chateava que a vida não houvesse me levado aonde eu queria nesse sentido. Volta e meia, vida vai, vida vem, me pegava pensando se conseguiria realizar essa espécie de sonho de me perder no anonimato da cidade grande todos os dias da vida ao invés de apenas em raras ocasiões de viagens. Me frustrava isso não ter acontecido ainda. Não que houvesse qualquer coisa de errado com a vida por isso, ela simplesmente foi acontecendo e me levou por caminhos diferentes, caminhos que não levavam às metrópoles dos meus sonhos. Pé no chão, pensava nas dificuldades de realizar essa minha vontade e no quanto queria ter a experiência das grandes cidades ao menos por algum tempo na vida.
Até que hoje me peguei pensando e falando sobre isso novamente. Só que dessa vez, não foi pensando em como é frustrante não estar vendo a vida acontecer nas ruas da grande cidade, em todas as possibilidades que eu teria, em como seria divertido e excitante. Foi pensando apenas que isso não importa mais, que tudo bem eu não ter essa experiência, pois eu estou feliz onde estou, que não é isso que faz a diferença. 
De certo modo, já escrevi sobre isso mais de uma vez. Aqui eu escrevi sobre a sensação de deixar ir coisas do passado e se libertar delas, mas acho que também vale deixar ir coisas que queríamos muito e passamos a não mais querer, está tudo bem. Aqui, no meu balanço de dez dias morando sozinha, eu escrevi sobre o sentimento novo de pensar que pela primeira vez na vida estou exatamente onde deveria estar e que não queria estar em nenhum outro lugar. É uma sensação maravilhosa de paz consigo mesmo, que eu estou amando experimentar. 
É como se libertar de um peso e aceitar a vida como ela é, da maneira que acontece. Que nossos caminhos de evolução podem ser diferentes do que esperávamos ou gostaríamos a princípio, mas que também podem ser maravilhosos, se soubermos enxergar o lado bom, se aceitarmos de coração aberto.
Do ponto de vista prático estar morando em uma cidade pequena me trás muita qualidade de vida: tudo parece estar à poucas quadras de casa, não enfrento trânsito nem transporte público precário diariamente, posso pedalar em lugares bonitos, não há poluição excessiva, me sinto segura, o custo de vida é baixo. Só vantagens. A cidade grande? Ainda me fascina claro, mas aceito que ela me ofereça seu mundo de possibilidades quando a visito e posso admirar sua loucura de fora, como apreciadora, não como alguém que está no meio de seu redemoinho.
Esse exemplo do meu sonho da cidade grande cai como uma luva para o sentimento de se libertar de frustrações e pensar a vida de um modo mais leve e simples e até mesmo mais lento e a aceitá-la melhor. Eu não sei como cheguei a ele, acho que isso se chama amadurecimento ou lucidez talvez. 
A vida tem suas surpresas, talvez um dia eu até esteja morando em São Paulo ou outra grande cidade do mundo e experimentando as vivências que um dia imaginei. Talvez. Tanto faz, por enquanto, a vida dos sonhos é agora.


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