quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Perdida na gringa




Algumas reminiscências de viagens passadas, histórias engraçadas das muitas vezes que me perdi por aí e outras curiosidades.

É muito comum se perder no transporte público. Eu estudo previamente os mapas da rede de metrô/trem e busco informações para entender como funciona o sistema, já chego bem ambientada, mas é inevitável me perder de vez em quando. No fim sempre dá tudo certo. Aqui vão algumas histórias.

De todos os lugares que visitei, o sistema de transporte mais difícil foi em Berlim, principalmente porque os nomes das estações são absolutamente impronunciáveis, então é difícil até mesmo pedir informação. No meu primeiro dia na cidade, um frio horrível que parecia que eu ia morrer só de respirar aquele ar gelado, eu fiz um caminho a pé um pouco diferente do que eu planejava e acabei caindo em uma estação de trem diferente da que eu tinha imaginado. Era uma estação aberta e fiquei muito tempo parada na frente do mapa da rede tentando entender onde eu estava e que trem eu precisava pegar para chegar onde eu queria, chegou a bater um desespero de morrer de hipotermia antes de conseguir me localizar, mas finalmente consegui.

Vagar pela rua sem saber para que lado ir é absolutamente normal e acontece em 9 de cada 10 dias viajando. No Japão (especialmente em Quioto) foi bem frequente. No entanto, não achei o sistema de transporte japonês tão difícil quanto o alemão, pois as linhas recebem letras para identificar, as estações e mesmo as diferentes saídas de cada estação são numeradas. Mesmo assim, tenho uma história engraçada que ocorreu no meu primeiro dia em Osaka. Peguei o metrô na estação mais próxima do meu hostel e gravei bem na memória que na volta eu deveria pegar a saída 5 que era a mais próxima para voltar para o hostel (às vezes, se pegar uma saída errada em uma estação muito grande, pode ficar bem longe do local planejado). Na volta, ao chegar na estação procurei imediatamente pela saída 5 e achei tão engraçado que a escada era muito mais larga do que a escada estreita que eu havia visto na ida. Até voltei um pouco para conferir se aquela era mesmo a saída número 5. Convencida do número, mesmo subindo uma escada absurdamente mais larga do que deveria, saí da estação e me deparei com um lugar completamente diferente do que eu esperava. Fiquei chocada imaginando onde eu tinha ido parar. Bom, até hoje não sei porque nunca consegui voltar para casa depois disso. Brincadeira. Voltei para a estação, olhei o mapa da rede e vi que estava em uma estação diferente, que tinha o mesmo número da estação em que eu deveria estar, mas pertencia à outra linha. Tive que fazer o caminho inverso voltando para a estação de onde havia partido e finalmente pegando a linha certa para retornar para o hostel. Já era noite, levou cerca de meia hora e paguei um novo bilhete, mas deu certo. Mais sobre o Japão aqui.

Nesse artigo sobre o Japão contei o caso da minha boina perdida e encontrada dois dias depois no mesmo lugar. Aconteceu algo quase idêntico na Alemanha: derrubei uma luva ao parar para tirar fotos logo antes de entrar em uma loja, meia hora depois quando saí da loja já ciente de ter perdido o item e fazendo o mesmo caminho vi a minha luva sobre um banco. Alguém não apenas encontrou, mas se deu ao trabalho de juntar do chão e colocar em um local visível.

Sim eu admito que sou muito atrapalhada, pois mesmo no Brasil eu consigo me perder. Todas as vezes que passo pela estação da Luz em São Paulo eu me perco: não sei para que lado ir, não sei onde fica a linha certa, não sei onde é a saída. Já passei pelo menos uma dezena de vezes por lá, mas sempre me perco, não sei o que acontece.

Ainda analisando os sistemas de transporte público, algo de que sou absolutamente fã, as estações de metrô de Amsterdam são tão limpas, silenciosas e com um aspecto futurista. Eu realmente me sentia 20 anos no futuro. 

Por falar em Países Baixos, os holandeses são tão incrivelmente educados. Lembro que tomei bastante chuva procurando a casa da Anne Frank (eu estava do lado errado da rua e fiquei em um domingo de manhã andando para um lado e para outro que nem barata tonta na chuva e no frio). Quando cheguei na fila para entrar no prédio, uma mulher que trabalhava na casa veio muito educada perguntar se eu queria um guarda-chuva para esperar na fila. Eu estava bem molhada naquela altura, não fazia muita diferença alguns minutos a mais parada na chuva, mas ela insistiu tão gentil e educadamente que era grátis e para eu não me molhar que era irrecusável.

Já pensaram que eu era gringa no aeroporto de Guarulhos. Na verdade, chega a ser um clichê porque eu escuto com frequência das pessoas que encontro em viagens: oh mas você não parece brasileira, você é tão diferente dos outros brasileiros que eu conheço. Precisamos disseminar melhor o clichê de que qualquer um pode ser brasileiro porque brasileiro não tem cara.

Os brasileiros não apenas não tem cara como estão em todos os lugares. Sempre escutei alguém falando português (já ia escrever “falando brasileiro”) na rua em algum momento em todos os países por onde passei. A única exceção foi Berlim.

Engraçado que geralmente são os brasileiros que se surpreendem quando eu digo que estou viajando sozinha. Já escrevi sobre isso aqui. O pior é que geralmente a pergunta que surge é: “mas tu não tem uma amiga para viajar contigo?” Meu Deus, vamos normalizar o fato de que mulheres podem viajar sozinha e não precisam de uma amiga a tiracolo. 

Para terminar, eu tenho uma teoria de que em caso de se estar perdido em um lugar, basta seguir o grande grupo de turistas chineses que com certeza estará logo ali. Eles têm guias, estão em grupos enormes, com certeza sabem onde estão indo.


Fonte da imagem:

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Devaneios de pandemia

 

Mais de um ano vivendo em pandemia, entre altos e baixos. Os altos nunca são muito altos e os baixos são sim muito, muito baixos. Me pergunto se um dia esse modo de viver pandêmico será somente uma vaga lembrança de um período ruim. Porque, às vezes, é difícil lembrar de como era a vida antes de termos o covid-19 entre nós. Aqueles tempos de usar batom vermelho, de sair para encontrar pessoas, de andar na rua sem medo, de viajar, de usar brincos sem prender as orelhas na máscara, de conhecer gente nova, de dar abraços. 

Faz tempo que queria escrever sobre esse período. Não porque eu tenha qualquer coisa boa para escrever, não mesmo, e não porque queira me lembrar dos anos de 2020 e 2021 um dia. É por necessidade de colocar para fora as angústias, na esperança de que isso ajude. 

Às vezes, eu sento no sofá no final da tarde e fico me perguntando se é muito cedo para ir para cama. Porque eu só quero que o tempo passe, dormindo talvez passe mais rápido. Esses são os baixos de que falei no início. Os mais baixos são os dias em que eu nem quero levantar da cama, que eu levanto apenas para o estritamente necessário e volto. Se for um dia menos ruim eu assisto televisão e escuto podcasts. Queria contabilizar quantas horas de podcasts já escutei desde que iniciou a pandemia. Tenho certeza que são centenas. Conseguir escutar podcast é um alívio, porque nos dias mais sombrios, nem em escutar eu consigo me concentrar. 

Percebo o quanto estou ansiosa pela comida que consumo. Incontáveis idas ao supermercado para preencher o vazio da minha vida com comida. Cá estão dez novos quilos desde que a pandemia iniciou. Dos males o menor. Li várias reportagens sobre como as pessoas engordaram na pandemia. Engordaram, envelheceram e estão mentalmente desgastadas e doentes. Paciência. Ainda consigo vestir a maioria das roupas, especialmente as velhas que são repetidamente usadas. Também estou dois anos mais velha desde o início dessa nova vida.

A maior contradição de todas é o meu novo emprego em regime home office. Ele acaba comigo. Sento na frente do computador para vestir uma máscara, representar uma personagem caricata: alguém solidária, que se importa, que gosta do que faz, bem-humorada, quase alegre. Tudo uma mentira. O contraditório é que eu sou ótima representando esse papel. Até eu me surpreendo com o quanto sou boa fingindo. Parece fácil, mas é mais esgotador do que parece. 

É contraditório porque eu absolutamente amo aprender. Percebi que quando aprendo sou feliz. Me sinto em evolução. Me sinto desafiada e isso é incrível. Uma pena que ainda não saiba o que eu gostaria de aprender para seguir como profissão. Outra contradição. Sei que não é o que eu faço atualmente. Me sinto um desperdício.

Esses últimos vinte meses parecem todos meio iguais já. Como um sonho meio desbotado. Sempre os mesmos dias intermináveis, se repetindo sempre da mesma forma. São raras as vezes que eu saio de casa para além do supermercado, dá até para contar nos dedos. São raras as pessoas que eu vejo. É como se eu não tivesse mais uma vida. Acordar de manhã e pensar que tudo vai se repetir, sem surpresas, um dia exatamente igual ao anterior, sem nada especialmente bom ou animador, sem nenhuma emoção, é a pior parte. Sempre as mesmas coisas, sem nenhuma esperança de novidade. É como se eu não fosse mais a protagonista da minha própria vida, como se eu fosse apenas um fantoche vivendo esse sonho apagado. 

Tem dias que me pergunto como será o tal do novo normal. Nunca mais conhecer pessoas novas por medo de se contaminar se não com covid, com alguma outra doença. Logo eu que adoro conhecer gente. Nunca mais se aglomerar demais, shows e festas parecem algo do outro mundo. Nunca mais viajar sem restrições. Abraços só se forem com uma dose de medo adicionada. Não gosto desse mundo novo.

Acho que este texto está cheio de interrupções, de pontos finais, de frases curtas. Exatamente como meus pensamentos. Especialmente aqueles que me atormentam no meio da noite quando eu perco o sono: o pessimismo, a sensação de ser um fracasso, a incerteza, a indecisão sobre quem eu quero ser e o que eu quero fazer, a sensação de não ser boa o suficiente para nada, o medo de não merecer nada de bom. É uma espécie de auto tortura. Eu verdadeiramente gostava da pessoa que eu era antes da pandemia. Eu me sentia bem comigo mesma e agora eu me sinto assim. 

A pior parte é perceber que a pandemia está me tornando uma pessoa pior do que eu era e não melhor. Não sinto como se eu estivesse progredindo, me tornando um ser humano mais forte, mais dócil, mais cheio de predicados. Fico imaginando se nos períodos da História repletos de incertezas, como guerras, as pessoas que viveram esses momentos depois se sentiram melhores, mais vivas e conseguiram ser mais felizes. Eu temo que isso não aconteça, que reste somente uma versão pior de mim mesma, mais entristecida e com menos energia e menos força de vontade.

Queria escrever um final bacana para esse texto, um final esperançoso. Não. Já foi um pouco duro escrever tudo isso, o registro do que a minha vida se tornou, algo oco. Mesmo que milagrosamente a pandemia acabasse em um estalar de dedos, o meu sonho borrado continua da mesma forma. Um dia após o outro, já foram tantos, talvez um dia seja diferente. Quem sabe um dia será diferente não é mesmo?


domingo, 1 de agosto de 2021

Sobre aprender francês

 



A pandemia faz coisas malucas com as pessoas. Acho que no início do isolamento, quando as pessoas estavam levando as coisas a sério, todo mundo se animou um pouco com o tempo em casa para iniciar novos projetos. O meu projeto foi o francês. Surgiu da vontade de ocupar o cérebro com algo completamente novo, algo que eu nunca tivesse estudado antes. Comecei sem muita pretensão faz quase um ano e agora sou uma apaixonada pelo idioma.

Hoje quero falar sobre as coisas que acho legais no francês.

Dizem que a gramática francesa é difícil. Até pode ser, tem mesmo muitos detalhes, mas eu adoro estudar a gramática, ver a ordem no caos. Sou do time que acha que estudar gramática ajuda sim e muito a entender a língua. Por outro lado, os acentos do francês me deixam meio maluca! É muito acento! Tem palavras tipo générosité (generosidade) que tem 3 acentos! O som da letra “E” também é um pouco complexo para mim, mas o “R” rasgado do francês é incrível.

Uma das minhas palavras preferidas é lumière (luz). Também adoro oiseaux (pássaros) porque se não estudasse francês nunca saberia pronunciar corretamente e porque acho diferente essas palavras terminadas em x no francês - o x final é com frequência uma marca de plural para quem não sabe. Adoro réverbère (poste de luz) com esses acentos um para cada lado, mesmo não sendo uma palavra muito comum. O francês é tão incrível que torna bela até uma lata de lixo (que é poubelle). Outra palavra divertida é pourboire que é gorjeta, mas se formos separar “pour” é “para” e “boire” é “beber” - uma gorjeta para beber, que demais!

Na vida estudamos muito para ganhar dinheiro, para arranjar um emprego, para mudar de emprego, para de algum modo “subir na vida” então é legal que o francês na minha vida não tenha nenhuma dessas pretensões. Eu estudo porque gosto, porque amo aprender, porque adoro ser capaz de compreender uma língua nova e de decifrar novas palavras em um texto em francês ou escutar um vídeo ou podcast em francês e perceber que consigo entender. É um desafio pessoal, algo que eu faço para mim mesma. 

Dizem que é difícil manter a motivação quando não se tem um objetivo concreto com o idioma que se estuda. Discordo. Claro que tem semanas que me concentro menos, mas de um modo geral sigo motivada para aprender mais e melhorar mesmo sem um objetivo concreto. Quando aprendemos um idioma novo, um mundo inteiro se abre para nós, ganhamos toda uma cultura nova, antes inatingível: novos livros que podemos ler, novos blogs que podemos ler (ainda quero descobrir blogs em francês), novas músicas que passamos a compreender - eu jamais imaginaria que escutaria rap francês! E rap francês é bem divertido, é super difícil, mas é tão legal quando escuto uma música e entendo algumas frases no meio. 

Estudar um idioma é um baita exercício para o cérebro. Foi esse o meu principal motivo para começar uma nova língua. Inglês foi mais por necessidade e me esforcei muito para aprender, ainda tenho dificuldades, mas estou relativamente satisfeita com o meu nível de inglês, é o suficiente para viagens e interações sociais. Eu ainda precisaria progredir um pouco mais em inglês, mas é bem difícil fazer isso sozinha agora, não é muito animador. Então o francês é como um sopro novo de energia.

Tenho me sentido muito infeliz nesse período de pandemia, é como se eu estivesse jogando dois anos da minha vida no lixo, sem crescer, sem fazer coisas que eu gosto, então o francês me faz sentir como se pelo menos eu estivesse fazendo algo por mim mesma, como se não estivesse desperdiçando totalmente o tempo, mesmo que eu não vá usar muito ao longo da vida. É um consolo saber: bom, fiquei 2 anos estagnada, mas pelo menos aprendi francês. No fundo é meio terapêutico também e ajuda muito a ocupar o tempo.

Ainda é cedo para falar, mas eu super curto o humor francês. Assisto as vezes uns vídeos do Cyprien (um youtuber famoso da França) e acho muito engraçado, mesmo sem entender 100%. Não tentei ainda stand-up em francês, mas quero tentar. 

Me senti vitoriosa quando li faz poucos dias Le Petit Prince (O pequeno príncipe) em francês! Foi tão legal finalmente conseguir ler e compreender. É minha terceira leitura desse livro na verdade (duas primeiras em português, claro) e dessa vez percebi várias coisas novas e fiz novas interpretações também. É tão legal saber que de agora em diante poderei sempre relê-lo na versão original que é tão linda. J’ai réussi a lire Le Petit Prince !

Finalmente estou começando a conseguir pensar em francês também o que é a melhor parte, é quando finalmente começamos a nos sentir confortáveis com um idioma novo. Estou confundindo muito menos com o inglês (bem no início dava um nó na cabeça, queria pensar em francês e saía em inglês). 

Enfim, o francês talvez esteja sendo a única coisa que esteja me ajudando a passar pela pandemia e o confinamento, então sou muito grata por amar aprender e por conseguir me interessar por coisas novas neste período tão difícil da vida.


Fonte da imagem: Paris França Ponte - Foto gratuita no Pixabay

sábado, 17 de julho de 2021

Divagações aleatórias durante a pandemia

 

1. De um modo geral eu não estou feliz. Muitas vezes parece que eu simplesmente visto uma máscara e represento uma personagem quando tenho que interagir com outras pessoas. Preferiria não ter que vestir essa máscara.


2. Absolutamente zero respeito pelas pessoas que não respeitam a pandemia. Que andam por aí sem máscara, que fazem aglomerações, que frequentam lugares desnecessários, que estão vivendo a vida como se não existisse pandemia e o pior de tudo, ainda acreditam ou fingem que respeitam a pandemia e as medidas adequadas de distanciamento. Eu estou me sacrificando bastante para me manter em casa, então, estou também absolutamente com nojo das pessoas que não fazem o mesmo.


3. Eu já gostei de manter contato a distância através do whatsapp e semelhantes. Ainda sou do tempo do MSN e adorava o sonzinho de uma notificação... Atualmente, com essa vida insólita de pandemia eu queria poder ficar uma semana desconectada do whatsapp. Não posso porque utilizo para o trabalho. Zero paciência para responder mensagens, para pedir notícias, para manter qualquer tipo de contato por whatsapp. Me reduzi ao mínimo necessário, não consigo mais, não tenho criatividade e nem vontade para manter conversas assim, não quero ficar me cobrando para responder em um prazo aceitável. Simplesmente não é a vida real. Não é como encontrar uma pessoa pessoalmente (coisa que evito ao máximo exatamente por estar respeitando a pandemia), não chega nem perto de uma interação real. Então, tenho refletido o quanto não gosto dessa vida virtual, o quanto acho desgastante e chato e pensar que um dia já achei cheia de possibilidades. A lição que levo para depois da pandemia? Se não puder marcar um encontro real, longe de qualquer tela, ainda que esporadicamente, não quero manter na minha vida.


4. Puxando um gancho da observação anterior: meio sem paciência para pessoas de um modo geral. Está certo que não tenho tido quase nenhuma interação real há mais de um ano, mas acho que me acostumei dessa maneira. Ok, vai ser legal após a pandemia não precisar ter medo de encontrar outras pessoas, poder viajar e frequentar lugares cheios, mas acho que minha tolerância para lidar com outros seres humanos vai continuar sendo menor. É tão mais fácil. Talvez porque a pandemia tenha revelado o quanto muitas pessoas são egoístas (vide item 2 dessa lista).  


5. Às vezes parece que a única parte boa do dia é me sentar para tomar uma xícara de capuccino depois do almoço. Não bebo café preto então o capuccino com leite é minha escolha. É como se fosse uma pequena indulgência, e é assim que eu me sinto.


6. Às vezes final de semana são tipo 17 horas e eu já estou fazendo as contas de quantas horas faltam para finalmente voltar para cama.


7. Às vezes é muito difícil sentir vontade de sair da cama para começo de conversa. Quando eu saio da cama eu tenho que vestir a máscara e seguir em frente e fazer as coisas que eu não tenho vontade de fazer. 


8. É tão horrível ter que vestir a máscara ao sentar na frente do computador para trabalhar em algo que eu detesto. É como estar me destruindo um pouco por dentro. E o tempo não está atenuando isso, ao contrário, só torna o fardo mais difícil de carregar.


9. Pior do que vestir a máscara é simplesmente estar perdida na vida, sem ter a menor ideia de qual caminho seguir. É como estar empurrando as coisas com a barriga, deixando o barco correr sozinho, esperando que algo aconteça para mudar o curso dos acontecimentos. Só que não vai acontecer nada se eu não tomar nenhuma atitude e eu não sei que atitude tomar.


10. Acho que é normal querer mudar de profissão, de emprego, fazer outras coisas, seguir outros caminhos. A vida é feita dessas mudanças também. Acho incrível para falar a verdade. Adoro ler histórias de pessoas que se reinventaram. Só que é tão horrível quando não se tem a mínima ideia do que fazer e nem como mudar uma situação em que não se quer estar. Durante a pandemia não é como se eu simplesmente pudesse “largar tudo” e ir embora porque simplesmente não há lugar para ir quando se vive em uma pandemia. E mesmo que não existisse pandemia, não sei se andar sem rumo pelo mundo me faria descobrir um caminho - qualquer caminho - para seguir. Seria divertido, emocionante e enriquecedor, mas não sei se me faria ter algum propósito.


11. Será que é errado pensar apenas em ler e viajar? Quando eu tenho ânimo suficiente, as únicas coisas que eu quero pensar e fazer na vida são viajar e ler bons livros. Aprender coisas novas de vez em quando também (tipo idiomas). Não existe mais nada. Claro, eu gostaria de ser uma pessoa melhor também e acho que livros e viagens são um bom caminho e ajudam muito a tornar as pessoas melhores. É só isso. Não existe mais nada que eu queira fazer da vida. 


12. Como eu posso amar tanto, mas tanto aprender, estudar e descobrir coisas novas e odiar tanto, mas tanto ensinar? A maior contradição da minha vida talvez.


13. É bem solitário estar triste. Descobri que pelo jeito não tenho amigos. 


14. Meu sono está completamente desregulado na pandemia. Tem épocas em que durmo muito cedo, épocas em que durmo tarde, épocas em que acordo cedo, épocas em que acordo tarde, épocas em que perco o sono e passo parte da noite revirando na cama sendo atormentada pelos meus pensamentos pessimistas. Por falar em pensamentos, eu convivia muitíssimo melhor com os meus antes da pandemia, agora geralmente eu acabo me atormentando imaginando situações irreais que só me machucam.

segunda-feira, 7 de junho de 2021

Observações aleatórias sobre o Tinder (parte 2)

 




Percebi que na parte 1 do texto aqui, esqueci diversas observações e histórias, então vamos lá fazer a continuação.


1. Primeira pergunta que o cara faz: o que tu faz da vida? Minha vontade de responder: “Por que? Tu quer me dar um golpe?” Como se as pessoas fossem definidas pelos empregos que têm. Aliás, as pessoas têm que parar de achar que são definidas pelos empregos que têm. Isso é tão banal, tão superficial. Eu quero ser definida pelas experiências que tive, pelas coisas que aprendi, pelas histórias que vivi, não pelo que diz minha carteira de trabalho.


2. Sobre o item 1 acima, tenho uma história engraçada. Cansada desse tipo de pergunta superficial, uma vez que um cara me perguntou isso, eu respondi “eu vendo a minha arte na praia”. Continuamos a conversar e dali alguns minutos o cara perguntou “mas o que tu vende na praia mesmo?”, eu respondi “miçanga” e a reação dele foi “ah, legal”. Eu acho que o cara estava realmente acreditando que eu vendia artesanato na praia.


3. Primeira pergunta que o cara faz: o que tu procura aqui? Ué, não procuro nada, não perdi nada. Eu só sei que nada sei e o cara vem me perguntar o que eu procuro no Tinder? Esse tipo de pergunta me irrita porque é como se caso eu der a resposta “errada”, isto é, uma resposta diferente do que a pessoa quer, eu serei descartada como alguém que absolutamente não vale a pena conversar/conhecer. Não é porque queremos coisas diferentes que não podemos ao menos trocar uma ideia.


4. Regra para dar superlike: em geral eu só dou super like se a descrição for muito legal/inteligente. Por favor, me surpreendam com uma descrição incrível.


5. Por falar em descrições, por favor, parem de usar o “quem se descreve, se limita”. Isso é tão 2014. 


6. Escrever na descrição “vou mentir sobre como nos conhecemos”. Por favor, conhecer gente na internet já está normalizado, não tem mais o estigma de uns anos atrás. O estranho hoje em dia é conhecer alguém FORA da internet. 


7. Ainda sobre descrições. Não há nada mais bobo do que o cara que escreve “não sei o que falar sobre mim”. Como assim cara? Você é a pessoa que mais se conhece no mundo inteiro. Não tem absolutamente ninguém que saiba mais sobre você do que você mesmo e mesmo assim você não é capaz de escrever duas frases que seja sobre quem deveria ser a sua pessoa preferida no mundo?


8. Estava eu no aeroporto do Chile no meio da noite esperando um voo de conexão. Sem nada para fazer, comecei a deslizar no Tinder só para passar o tédio e o sono. Eis que dei um match. O cara pergunta no chat (não lembro mais em que idioma foi, se inglês ou espanhol, mas o sentido era esse): “por acaso você fuma tabaco?”. Respondi que não. O cara desfez o match. Sei lá, acho que ele estava procurando alguém que tivesse um cigarro...


9. Por falar em Chile, estava eu lá no Chile uns anos atrás e dei match com um alemão. Conversamos um pouco e marcamos de tomar sorvete no dia seguinte. Beleza. Gringos são meio estranhos, não abraçam, não beijam no rosto ao cumprimentar, mas enfim, conversamos em inglês por cerca de uma hora. Eu fiquei muito feliz por estar conseguindo manter uma conversa razoavelmente coerente em inglês por todo esse tempo. Ele então me  convidou para ir em um bar naquela noite. Aceitei bem faceira, ainda mais que o bar era perto do meu hostel, o horário era bom, tudo certo. Durante a tarde fiquei sem internet porque estava turistando e quando cheguei de volta no hostel pouco tempo antes da hora combinada de me encontrar com ele, recebi uma mensagem dele dizendo que ele não ia ir porque simplesmente já estava indo dormir para viajar no outro dia cedo. Nós tínhamos combinado de ir no bar às 20 horas, não era nada realmente tarde e ele me diz que ia dormir?! Claro, pelo menos ele avisou, mas me senti meio frustrada porque afinal o cara preferia ir dormir do que sair comigo e nem sequer se deu ao trabalho de pensar em uma desculpa melhor. Pelo menos virou uma história engraçada para contar. 


10. A cultura do desinteresse. Parecem existir regras que eu absolutamente não compreendo sobre como se deve agir no Tinder. Deveriam publicar um manual de instruções até. Não se pode mostrar muito interesse, deve-se sempre mostrar menos interesse que a outra parte, aliás, é quase uma disputa para ver quem mostra menos interesse às vezes. Não se pode responder imediatamente para não dar a ideia de que se está muito disponível. Acho isso tão cansativo.


11. Ter milhões de contatinhos. É absolutamente imprescindível ter milhões de contatinhos simultâneos. De preferência sair com várias pessoas ao mesmo tempo. Uma vez que se cansa de um, sempre haverá outro na fila. Eu nunca tive milhões de contatinhos, aliás, na maior parte do tempo tenho zero contatinhos. Até converso com várias pessoas ao mesmo tempo, acho que trocar ideias é absolutamente normal, mas essa de ter um grande número de ficantes em potencial permanentemente à disposição nunca aconteceu. Já ouvi que várias pessoas tem (tanto homens quanto mulheres), aparentemente não é muito incomum, mas eu não saberia nem como agir. No fundo, chego a achar desrespeitoso. Eu - como já disse várias vezes nesse blog - gosto de viver histórias. Não tenho a intenção de me prender a ninguém porque existem muitas coisas na vida que eu quero/gosto de fazer sozinha e acho que tenho muito a aprender ainda, mas sempre acreditei em viver histórias com intenção, em aprender com as pessoas que cruzam o meu caminho. Infelizmente, não sei como agir nesse mundo de desinteresse e de casos simultâneos. O fato é que já me magoei muito com pessoas que agiam dessa maneira.


Novamente essas observações e histórias são frutos da minha observação e experiência pessoal refletindo apenas as coisas aleatórias que passam pela minha cabeça. Não são uma verdade absoluta ou um manual de instruções para o Tinder. Meu objetivo ao escrever, foi apenas passar o tempo e me divertir me lembrando dessas histórias. 


Fonte da imagem: Margarida Coração Romance Dia Dos - Foto gratuita no Pixabay

domingo, 6 de junho de 2021

Observações aleatórias sobre o Tinder


Eu uso o Tinder há 7 anos - sim, desde 2014 quando ainda era uma novidade interessante, quando publicavam reportagens sobre casais que se conheceram pelo aplicativo, quando ainda não tinha anúncios, quando ainda era legal… Claro que não ininterruptamente (ninguém teria paciência para tanto), tive pausas de anos quando estava namorando ou iludida. Mesmo assim, usei em diversos períodos nesses anos e fui observando muitas coisas. Então, talvez por falta de pauta mais interessante, resolvi anotar uma porção de pensamentos aleatórios que tenho sobre o aplicativo e algumas histórias engraçadas/cômicas/trágicas.

Já aviso que algumas observações/histórias são bem superficiais e expressam julgamentos fúteis sobre a aparência dos homens. O objetivo é sim dar risada. Se por ventura algum homem ler esse blog (alguém lê esse blog afinal?) e se sentir ofendido: azar o seu, mulheres são em média muito mais julgadas pela aparência do que os homens então me sinto totalmente no direito de no meu blog escrever o que eu quiser.


  1. O que é mais comum: homens casados ou casais procurando uma amiguinha? Sério, sempre me pergunto, porque ambos perfis aparecem com muita frequência. Fico me perguntando também qual o tipo de mulher que dá like em um cara que diz na cara dura que é casado.


  1. Por que os homens colocam fotos das partes íntimas? Eu não quero ver isso! Essa é tão 2017 felizmente (isto é, não era comum quando eu comecei a usar lá em 2014, depois se tornou corriqueiro e agora voltou a ser raro).


  1. Fotos de cachorros. Amo. Às vezes, o cara é um ogro, mas está agarrado no cachorro mais fofo da face da terra. Eu me derreto… pelo cachorro. Não, não importa o quanto o cachorro é maravilhoso, se o cara não tiver pelo menos uma centelha da beleza do seu melhor amigo, não deslizarei para a direita. No entanto, pode ajudar no caso de caras medianos, aqueles que a gente fica na dúvida se dá like ou não. Eu queria muito que o Tinder oferecesse uma ferramenta para dar like nos doguinhos.


  1. Foto de gato (o animal) no perfil. Quase certo que eu vou deslizar para a esquerda. Não curto gatos. Assim como o cachorro pode ser um fator de desempate se eu estiver na dúvida, o gato (animal) vai me fazer deslizar para a esquerda, a não ser que seja um cara incrivelmente gato que eu possa relevar o fato de ter um outro gato (animal) no perfil dele. 


  1. Cara tem 6 fotos no perfil: todas de óculos de sol cobrindo metade do rosto. Desliza para a esquerda. Sério que tu não é capaz de colocar uma única foto sem óculos? O que tu está escondendo?


  1. Perfis com apenas uma foto. Desliza para a esquerda. Uma foto tirada em um único ângulo bem específico pode ser muito enganosa. Ninguém tem apenas uma foto.


  1. Informação útil para os desavisados: se a pessoa escreve 4:20 ou 420 no perfil, é um maconheiro de plantão. Incrivelmente fui percebendo que muita gente não sabe disso, então acho bom avisar. 4:20 por algum motivo misterioso ficou estabelecido como a hora de fumar maconha então é uma forma da pessoa dizer no perfil que é chegada em uma plantinha sem dizer com todas as letras.


  1. Por que perfis que eu já deslizei para a esquerda ficam aparecendo de novo e de novo? O maior mistério do Tinder.


  1. Por que perfis totalmente fora dos parâmetros (idade e distância) que eu estabeleci ficam aparecendo? Não, não é porque eles me deram like antes e então o Tinder está me mostrando porque já fiz o teste diversas vezes. Segundo maior mistério do Tinder.


  1. Caras que não colocam nenhuma foto no perfil. Alguém dá like nesses caras? Terceiro maior mistério do Tinder.


  1. Como moro no litoral, quando possível gosto de marcar de se encontrar na praia se for suficientemente perto. É rápido, grátis e permite que se analise o material. Ainda se ficar chato posso dar uma desculpa para ir embora rápido.


  1. Uma vez um cara de quem eu gostava bastante disse na minha cara “a gente até pode ficar, mas eu vou ficar com as outras também”. Me senti um lixo completo, como se eu não valesse nada. Não era um cara aleatório qualquer que eu tinha encontrado uma vez na vida, já rolava uma história com alguns capítulos e o cara me dizer isso, fez com que eu sentisse que eu não valia absolutamente nada. E não, eu não queria namorar sério, casar e ter filhos, eu só queria viver uma história que não envolvesse eu implorar por um horário na agenda da pessoa, no meio de todos os outros contatinhos que ele veria naquela semana…


  1. Uma vez eu saí com um cara que era tipo uns 10 cm mais baixo do que eu. Ok, eu sou alta e não é difícil eu ser mais alta que muitas pessoas, mas nesse caso era muita diferença, era ridículo. Eu não sinto nenhuma atração por caras muito mais baixos do que eu. Nesse caso, o guri era muito bom de papo, mas realmente era baixo demais! O mais chato foi que ele disse que algumas vezes estranhamente as gurias com quem ele marcava date não apareciam… Eu desconfio que elas apareciam sim, só que fugiam antes de se apresentar por causa da altura dele.


  1. Sobre o Adote Um Cara. Adote Um Cara é um aplicativo tipo o Tinder, mas menos famoso. Acho ele muito legal porque os perfis das pessoas tem mais informações, só que tem muita pouca gente usando (pelo menos aqui na minha região) então não tem muita graça. Ele deveria ser mais divulgado. Acho legal que ele funciona como uma loja virtual de caras em que as mulheres devem colocar as “mercadorias” interessantes no seu “carrinho de compras”.


  1.  Uma vez um cara disse que achou que eu não existia. Conversamos por semanas antes de nos conhecermos, ele já tinha meu whats, meu Facebook e mesmo assim ele achava que eu era um perfil fake. 


  1. Eu sonho acordada que um dia vão bater na porta da minha casa, eu vou abrir e os caras do Catfish vão estar na porta procurando por mim. Sério! Please, please, please, será que tem como alguém mandar o Catfish atrás de mim? O ponto alto seria quando eles perguntariam “então Adriana, você sabe que foi o fulano de tal que nos mandou atrás de ti etc?”, então eu faria uma cara de paisagem, viraria para o Ciro (um dos apresentadores do Catfish para quem não sabe) e diria “ah, aquele cara? Não, não estou interessada nele, mas se tu quiser me dar uma chance, eu super topo”.


  1. Caras que conversam por horas, às vezes dias, e quando eu convido para algo bem despretensioso como um sorvete ou crepe (sempre procuro alternativas baratas para não gerar nenhum desconforto) me deixam no vácuo. O que esses caras querem afinal? Sim, já aconteceu um número incontável de vezes. Quarto maior mistério do Tinder.


  1. Eu não sei como as outras mulheres fazem, mas eu sempre pago o que eu estou consumindo. Aliás, fico muito indignada quando ouço histórias de mulheres que querem que os caras paguem as coisas para elas pelo simples fato de que elas são mulheres. Como se não bastasse, ainda escolhem restaurantes/coisas caras. Isso é tão… século passado quando as mulheres não trabalhavam e dependiam do pai/marido. Se eu trabalho, é para pagar as coisas que eu quero mesmo quando eu estou acompanhada. Além disso, me sinto mais à vontade porque o cara (não sei se algum cara ainda pensa assim) não vai pensar que porque me pagou alguma coisa tem direito a algo. Não vou ser hipócrita e dizer que nunca deixei ninguém pagar nada para mim, acho que depois que as pessoas se conhecem um pouco melhor pode rolar algum ato de gentileza/cavalheirismo por parte do cara desde que seja isso, um gesto de gentileza/agrado, e não uma oportunidade da mulher ganhar algo que ela simplesmente não quer pagar do próprio bolso.


  1.  Escrevi uma vez aqui que o ghosting é uma prática muito chata. Ainda acredito naquilo que escrevi, mas tenho que fazer um adendo. Uma vez um cara com que saí (e foi super legal, eu tinha gostado muito dele) e que depois me deixou no vácuo, voltou semanas depois para me dizer que ele estava com outra e era por isso que ele não tinha me escrito mais. Totalmente desnecessário. Isso já faz tempo, mas até hoje eu acho que eu podia passar melhor sem essa.


  1.  Sobre afinidades. Sim, é muito fácil encontrar pessoas legais de conversar no Tinder (embora seja ainda mais fácil encontrar pessoas com que não se tem absolutamente nenhum assunto), pessoas que gostam das mesmas coisas que nós. Por que afinal, quem não gosta de ler bons livros, assistir bons filmes/séries, ouvir boas músicas, sair para fazer coisas legais, viajar e comer coisas gostosas? Então é bem óbvio que é bem fácil achar pessoas com gostos similares. Assim como é bem fácil, quando as duas partes estão razoavelmente dispostas a conversar, rolar uma sintonia. E isso é bem bacana, não vou dizer que não. O problema é que as pessoas (principalmente logo que começam a usar o Tinder e similares) ficam deslumbradas com isso, acham que isso basta. “Ai, mas eu conversei a noite inteira com fulano, ele é super legal, nós temos tanto em comum!” Nossa, já vi esse filme pelo menos mil vezes. Daí as pessoas se conhecem, se encantam porque estão absolutamente deslumbradas com as coisas em comum, com a conversa agradável e acham que são o par perfeito, feitos um para o outro. Voilà! Erro. Grande erro. Tudo muito rápido. Com o tempo as diferenças começam a aparecer, as vezes diferenças muito grandes, fundamentais, obstáculos intransponíveis. Acho que esse é um tópico que merece um texto exclusivo porque tenho muitas ideias a respeito e também exemplos. Aqui fica meu alerta: o Tinder acaba facilitando e apressando as coisas, é fácil se deixar levar porque a conversa é boa demais, é fácil achar coisas em comum porque como eu disse TODO MUNDO gosta das coisas boas da vida. Conhecer uma pessoa de fato leva muito mais tempo e esforço.



Fonte da imagem: Mecha App Namoro - Imagens grátis no Pixabay

sexta-feira, 26 de março de 2021

Journée parfaite

 



Une journée parfaite pour moi est une journée de voyage. Les jours plus heureux de ma vie ont été les jours où j’ai voyagé et j’ai exploré un nouveau lieu. Donc, ma journée idéale commencerait loin et seule dans une ville inconnue. Probablement je me réveillerais dans une chambre d’auberge de bonne heure et je partirais pour trouver quelque chose pour le petit-déjeuner et pour trouver des nouvelles aventures.

Ma journée comprendrait des musées, des rues, des paysages, des attractions touristiques… Parfois je me perdrais dans le labyrinthe en cherchant un endroit, je ne m’ennuierais pas, j’aurais du temps pour me perdre et me rencontrer… Surtout, ma journée inclurait de la réflexion avec moi-même, du silence au milieu du chaos et de la gratitude.


Fonte da imagem: França Toulouse Arquitetura - Foto gratuita no Pixabay

sábado, 20 de março de 2021

I’m back e sobre o meu ano de 2020

 



Faz muito tempo que não escrevo. 2020 foi muito duro comigo e em muitos dias eu mal sentia vontade de sair da cama, em alguns eu saía apenas porque já estava exausta demais de ficar deitada. Escrever então, embora eu tentasse ensaiar algumas vezes, não rolava. Eu sentia que não tinha nada de bom à oferecer ao mundo com as minhas palavras, parece que haviam somente palavras amargas. Nem mesmo a tradicional retrospectiva de final de ano que eu costumava escrever eu senti vontade de fazer, só queria esquecer que 2020 alguma vez existiu.

Acho que o pior de 2020 foi sentir nitidamente que eu piorei como pessoa. Um dia, muito tempo atrás, eu olhei para mim mesma e percebi que havia me tornado a pessoa que eu sempre sonhara em ser. Eu era feliz e sabia. Daí veio 2020 e mudou minha vida, para pior. Eu me senti amarga e infeliz e senti que não estava progredindo na vida sob nenhum aspecto. E isso era o pior que poderia acontecer. Sei que a vida não é perfeita e nunca temos tudo, nem teria graça se fosse diferente. No entanto, em 2020 eu senti que eu estava regredindo em todas as esferas possíveis, não estava aprendendo nada, não estava crescendo em nada, não estava fazendo nada de útil com o meu tempo.

Eu sei que tenho muito pelo que agradecer, não fiquei doente, não vi ninguém da minha família próxima ficar doente, estou segura em casa, tenho comida e até consegui um novo emprego para felizmente trabalhar em home office. Aliás, home office é a melhor coisa no que se refere a vida profissional. Sou grata por tudo isso e sei que sou privilegiada, mas não posso deixar de pensar que regredi como ser humano em 2020.

Essa sensação de não me sentir mais a mesma pessoa, a pessoa que escrevia todas as coisas legais que escrevi aqui, a pessoa que era feliz e gostava do mundo incrível que habitava me impedia de escrever. Durante 2020 eu mal vi ou falei com outras pessoas além do meu círculo extremamente próximo. Não tive oportunidades de observar e aprender com as pessoas, então parece que não tinha o que escrever também.

Daí hoje abri o blog e li o último texto publicado. E percebi que cada uma daquelas palavras ainda é verdade para mim. Talvez eu não tenha mudado tanto assim lá no fundo. Isso dá uma esperança né?

Vamos lá então, o que eu fiz em 2020?

Em 2020 eu tive tempo para ler muitos livros legais. Ler é segunda coisa que eu mais curto fazer depois de viajar, com certeza. Agora em fevereiro de 2021 completei um ano sem ter comprado uma única peça de roupa e sem planos de comprar algo nos próximos seis meses pelo menos (a minimalista que habita em mim agradece). Comecei a aprender francês que é algo que eu nunca tinha cogitado antes e provavelmente não cogitaria se não fosse a pandemia e o excesso de tempo em casa. Agora me pergunto por quê não comecei a aprender antes, pois é uma língua linda e estou adorando. Passei muito tempo com a cachorrada, talvez os únicos momentos de felicidade plena, genuína e simples, ver eles correndo na praia não tem preço. A solidão que eu sempre prezei como ótima companhia, não foi tão agradável em 2020. Escrevi sobre isso uma vez, quando a gente não gosta dos próprios pensamentos, aqueles que não conseguimos calar com distrações e mesmo com a companhia de outras pessoas, ficar consigo próprio se torna mais difícil. Pelo menos ainda sinto vontade de fazer muitas coisas sozinha no futuro, então tenho esperança de me tornar uma companhia melhor para mim mesma no futuro. Também revi muitas prioridades em 2020. Como todos fomos impedidos de fazer muitas coisas que costumávamos fazer, eu, pelo menos, acabei percebendo que algumas coisas não são mesmo mais tão relevantes, que posso mudar o foco, me concentrar naquilo que terá um impacto maior.

Bom, acho que essa foi meio que uma retrospectiva 2020 super atrasada. Espero que um dia eu possa lembrar desse tempo de pandemia como um passado muito distante, um pequeno lapso, uma falha na vida que ficou esquecida e que foi recompensada com um futuro melhor, mais feliz, mais cheio de graça.

Fonte da imagem: Flor Vida Crack - Foto gratuita no Pixabay