Faz muito tempo que não escrevo. 2020 foi muito duro comigo e em muitos dias eu mal sentia vontade de sair da cama, em alguns eu saía apenas porque já estava exausta demais de ficar deitada. Escrever então, embora eu tentasse ensaiar algumas vezes, não rolava. Eu sentia que não tinha nada de bom à oferecer ao mundo com as minhas palavras, parece que haviam somente palavras amargas. Nem mesmo a tradicional retrospectiva de final de ano que eu costumava escrever eu senti vontade de fazer, só queria esquecer que 2020 alguma vez existiu.
Acho que o pior de 2020 foi sentir nitidamente que eu piorei como pessoa. Um dia, muito tempo atrás, eu olhei para mim mesma e percebi que havia me tornado a pessoa que eu sempre sonhara em ser. Eu era feliz e sabia. Daí veio 2020 e mudou minha vida, para pior. Eu me senti amarga e infeliz e senti que não estava progredindo na vida sob nenhum aspecto. E isso era o pior que poderia acontecer. Sei que a vida não é perfeita e nunca temos tudo, nem teria graça se fosse diferente. No entanto, em 2020 eu senti que eu estava regredindo em todas as esferas possíveis, não estava aprendendo nada, não estava crescendo em nada, não estava fazendo nada de útil com o meu tempo.
Eu sei que tenho muito pelo que agradecer, não fiquei doente, não vi ninguém da minha família próxima ficar doente, estou segura em casa, tenho comida e até consegui um novo emprego para felizmente trabalhar em home office. Aliás, home office é a melhor coisa no que se refere a vida profissional. Sou grata por tudo isso e sei que sou privilegiada, mas não posso deixar de pensar que regredi como ser humano em 2020.
Essa sensação de não me sentir mais a mesma pessoa, a pessoa que escrevia todas as coisas legais que escrevi aqui, a pessoa que era feliz e gostava do mundo incrível que habitava me impedia de escrever. Durante 2020 eu mal vi ou falei com outras pessoas além do meu círculo extremamente próximo. Não tive oportunidades de observar e aprender com as pessoas, então parece que não tinha o que escrever também.
Daí hoje abri o blog e li o último texto publicado. E percebi que cada uma daquelas palavras ainda é verdade para mim. Talvez eu não tenha mudado tanto assim lá no fundo. Isso dá uma esperança né?
Vamos lá então, o que eu fiz em 2020?
Em 2020 eu tive tempo para ler muitos livros legais. Ler é segunda coisa que eu mais curto fazer depois de viajar, com certeza. Agora em fevereiro de 2021 completei um ano sem ter comprado uma única peça de roupa e sem planos de comprar algo nos próximos seis meses pelo menos (a minimalista que habita em mim agradece). Comecei a aprender francês que é algo que eu nunca tinha cogitado antes e provavelmente não cogitaria se não fosse a pandemia e o excesso de tempo em casa. Agora me pergunto por quê não comecei a aprender antes, pois é uma língua linda e estou adorando. Passei muito tempo com a cachorrada, talvez os únicos momentos de felicidade plena, genuína e simples, ver eles correndo na praia não tem preço. A solidão que eu sempre prezei como ótima companhia, não foi tão agradável em 2020. Escrevi sobre isso uma vez, quando a gente não gosta dos próprios pensamentos, aqueles que não conseguimos calar com distrações e mesmo com a companhia de outras pessoas, ficar consigo próprio se torna mais difícil. Pelo menos ainda sinto vontade de fazer muitas coisas sozinha no futuro, então tenho esperança de me tornar uma companhia melhor para mim mesma no futuro. Também revi muitas prioridades em 2020. Como todos fomos impedidos de fazer muitas coisas que costumávamos fazer, eu, pelo menos, acabei percebendo que algumas coisas não são mesmo mais tão relevantes, que posso mudar o foco, me concentrar naquilo que terá um impacto maior.
Bom, acho que essa foi meio que uma retrospectiva 2020 super atrasada. Espero que um dia eu possa lembrar desse tempo de pandemia como um passado muito distante, um pequeno lapso, uma falha na vida que ficou esquecida e que foi recompensada com um futuro melhor, mais feliz, mais cheio de graça.
Fonte da imagem: Flor Vida Crack - Foto gratuita no Pixabay
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